As inscrições para a segunda edição do CNU (Concurso Nacional Unificado) foram abertas na última quarta-feira (2) e seguem até o dia 20 de julho. Neste ano, os candidatos devem escolher um entre nove blocos temáticos, cada um voltado a áreas específicas de formação e atuação no serviço público federal.
Essa escolha é uma das etapas mais estratégicas do processo seletivo, já que dentro de cada bloco estão reunidas carreiras com temáticas semelhantes, mas que podem variar em atribuições, exigências de formação e remuneração.
Além da definição do bloco, os candidatos também precisam indicar, no momento da inscrição, a ordem de preferência entre os cargos disponíveis naquele grupo. Um dos blocos que mais concentram oportunidades para profissionais da saúde e das políticas públicas é o bloco 1, intitulado “Seguridade Social: Saúde, Assistência Social e Previdência Social“. Ele reúne vagas em órgãos como o INSS, o Ministério da Saúde, as Forças Armadas e hospitais federais.
A reportagem da Folha conversou com especialistas para detalhar as oportunidades oferecidas nesse bloco e esclarecer como os candidatos podem se preparar.
O QUE A FGV COSTUMA COBRAR PARA ESSES CARGOS?
Mirela Barreto e Thaysa Vianna, professoras do Estratégia Concursos, explicam que a FGV (Fundação Getulio Vargas), banca organizadora do certame neste ano, costuma valorizar interpretação crítica, domínio técnico e capacidade de articulação entre teoria e prática. Segundo as especialistas, em áreas como saúde, assistência e Previdência, ela tende a cobrar:
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Conhecimentos atualizados sobre o SUS (Sistema Único de Saúde) e suas diretrizes: as legislações que regulamentam o SUS (como as leis 8.080/90 e 8.142/90) são frequentemente atualizadas, e o acompanhamento dessas novidades é fundamental para os candidatos;
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Capacidade de análise interdisciplinar, especialmente em temas como vigilância em saúde, atenção primária, regulação, controle social e saúde do trabalhador;
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Domínio de políticas sociais integradas, principalmente nas interseções entre saúde, assistência social e Previdência.
A professora do Gran Concursos Fernanda Feitosa destaca ainda a importância das áreas comuns, que representam o conhecimento esperado de qualquer profissional que atuará no serviço público nessas áreas.
“O domínio das áreas comuns demonstra uma visão sistêmica da administração pública, o que é altamente valorizado em cargos que exigem planejamento, coordenação e execução de políticas públicas”, diz.
A especialista destaca ainda que, embora as áreas comuns sejam cruciais, a especialidade é o que diferencia o candidato e o qualifica para a vaga específica. Assim, após solidificar a base nas áreas comuns, o aprofundamento na especialidade é indispensável.
COMO POSSO ME PREPARAR PARA A DIVERSIDADE DE INSTITUIÇÕES?
As professoras do Estratégia explicam que, apesar das diferenças entre as instituições envolvidas, o conteúdo programático é unificado dentro de cada bloco temático.
O que muda, de acordo com o cargo, é o peso atribuído a cada eixo temático. Por isso, para lidar com a diversidade de funções oferecidas no bloco 1, é fundamental observar que, em alguns casos, um dos eixos pode ter peso 5, enquanto os demais terão peso 1 —o que impacta diretamente na estratégia de preparação.
Assim, elas dizem que o aluno deverá direcionar mais esforço para o estudo daqueles eixos temáticos que têm peso maior no cargo pleiteado.
O QUE SÃO E QUAIS SÃO OS EIXOS TEMÁTICOS DO BLOCO 1?
No CNU, os conteúdos cobrados nas provas são organizados por eixos temáticos (grupos de assuntos que reúnem competências comuns a diversos cargos). Esses eixos servem como base para a estrutura do conteúdo de cada bloco e são distribuídos de forma distinta entre os cargos, com pesos diferentes conforme o perfil da vaga.
Fernanda Feitosa, do Gran Concursos, diz que os seguintes conteúdos têm mais probabilidade de ser cobrados:
Eixo temático 1 – Seguridade social: conceito de política social e seguridade social (entendimento dos fundamentos e objetivos da seguridade social no Brasil); estado brasileiro e proteção social (vertentes históricas e a construção da política social no país); evolução legislativa da seguridade social no Brasil; financiamento e orçamento da seguridade social.
Eixo temático 2 – Saúde: aspectos históricos da política de saúde no Brasil e reforma sanitária (compreensão do contexto histórico que levou à criação do SUS); legislações relativas à política pública de saúde e suas alterações; conselhos e conferências de saúde (importância da participação social na gestão do SUS); ciência, pesquisa e tecnologia em saúde; estrutura e organização do SUS; o papel dos serviços de saúde em emergências e eventos de risco sanitário; entre outros.
Eixo temático 3 – Assistência social: aspectos históricos da assistência social no Brasil; legislações relativas à política pública de assistência social: pobreza, desigualdades e vulnerabilidade social (conceitos e como se relacionam com a assistência social); a política de assistência social e o Suas; BPC (Benefício de Prestação Continuada).
Eixo temático 4 – Previdência Social: noções de direito previdenciário; finalidades e princípios básicos da política de Previdência Social; regimes de Previdência Social; plano de benefícios da Previdência Social; avaliação biopsicossocial da deficiência; entre outros.
Eixo temático 5 – Saúde e Segurança do Trabalho: legislações relativas à saúde e segurança do trabalho; noções de higiene do trabalho; doenças relacionadas ao trabalho; acidente do trabalho (definição, legislação previdenciária, equiparação); CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho); riscos biológicos, entre outros.
QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS PARA QUEM BUSCA UMA VAGA MÉDICA?
Neste ano, o CNU oferece grande variedade de cargos voltados a especialidades médicas. Para esses casos, as especialistas do Estratégia indicam que a melhor estratégia é conhecer a fundo o perfil de cada vaga e concentrar os estudos em três frentes principais.
A primeira delas é o estudo do edital e das atribuições específicas. “É essencial ler com atenção as competências e funções previstas para o cargo, já que algumas vagas têm perfil mais assistencial, enquanto outras são voltadas para atividades administrativas ou de pesquisa. Compreender o peso de cada eixo temático no conteúdo programático permite direcionar os estudos de forma mais estratégica e eficiente”, dizem.
Em seguida, é preciso atenção aos temas transversais obrigatórios, pois, independentemente da especialidade escolhida, o conteúdo programático inclui tópicos comuns a todos os cargos.
Por fim, a recomendação é priorizar a resolução de questões elaboradas pela FGV. “A banca tem um estilo característico, com enunciados extensos e cobrança simultânea de múltiplos assuntos em uma mesma questão. Por isso, é indispensável praticar com provas anteriores da FGV, inclusive de áreas correlatas, para se familiarizar com o formato e aprimorar a interpretação e o raciocínio exigidos”, afirmam Mirela e Thaysa.
PRECISO TER EXPERIÊNCIA NO SUS?
As professoras do Estratégia dizem que o concurso público é uma das formas mais democráticas de ingresso no mercado de trabalho, pois permite que qualquer pessoa, mesmo sem experiência, conquiste um cargo público por mérito, desde que estude de forma adequada.
“Ainda que os temas se concentrem nas políticas públicas de saúde, a parte mais assistencial —que costuma ser vivenciada por quem já atua no SUS— não tem relevância dentro do conteúdo programático. Por isso, candidatos sem experiência na área devem se sentir plenamente encorajados a participar da seleção, sabendo que a preparação teórica é o principal diferencial”, afirmam.
Neste quesito, as especialistas destacam que é fundamental avaliar o local de atuação, considerando a viabilidade de mudança de cidade ou estado. Caso o candidato tenha essa possibilidade, buscar vagas em regiões com maior oferta pode ser uma estratégia vantajosa.
Em seguida, é importante analisar também a remuneração, as atribuições — que podem variar bastante mesmo entre cargos que exigem a mesma formação— e as perspectivas de carreira.
“Todos os cargos oferecem estabilidade e possibilidade de crescimento e progressão funcional. No entanto, alguns órgãos já apresentam estrutura mais organizada de plano de carreira, por isso, avaliar essa condição é importante para o planejamento a longo prazo”, explicam Mirela e Thaysa.
AINDA ESTOU ME FORMANDO. DEVO PARTICIPAR DO CONCURSO?
Para quem está concluindo a graduação ou uma pós-graduação, a decisão de participar do CNU agora ou esperar uma próxima edição depende de alguns fatores, segundo Fernanda Feitosa, do Gran Concursos.
O primeiro ponto a ser considerado é a data de conclusão do curso ou da especialização. Se a formatura estiver prevista para antes da data provável da posse, vale a pena tentar. Caso contrário, o risco de ser aprovado e não poder assumir o cargo é alto.
Outro fator importante é o nível de experiência profissional e o domínio do conteúdo cobrado. “A FGV é conhecida por provas desafiadoras. Se você se sente preparado e com um bom domínio dos conteúdos exigidos, mesmo que ainda esteja finalizando a formação, pode ser uma boa oportunidade para testar seus conhecimentos e ganhar experiência em concursos de alto nível”, diz a professora.
Por fim, é preciso analisar o investimento envolvido. “Considere o custo de inscrição e o tempo dedicado à preparação. Se o investimento for alto e as chances de posse forem baixas devido à formação incompleta, pode ser mais estratégico focar a conclusão dos estudos e se preparar para uma próxima edição com mais tranquilidade”, orienta Fernanda.
DIFERENÇAS ENTRE CONCURSOS MUNICIPAIS, ESTADUAIS E FEDERAIS
Entre as principais dicas para quem vai começar a se preparar para o concurso federal, Fernanda destaca a importância de um aprofundamento na legislação federal. Segundo ela, concursos da esfera federal exigem conhecimento detalhado das leis e normas nacionais, além da capacidade de interpretar e aplicar esses dispositivos em situações práticas.
“A FGV não se limita a cobrar a ‘lei seca’. Ela frequentemente apresenta situações-problema e exige que o candidato aplique o conhecimento da legislação e das políticas públicas para resolvê-las”.
Também é fundamental estudar a estrutura e a organização do Estado brasileiro. Por fim, um dos pontos mais relevantes, segundo Fernanda, é a resolução de provas anteriores da banca organizadora.
“Esta é, talvez, a dica mais importante. A FGV tem um estilo muito particular de elaboração de questões, com enunciados longos e alternativas que exigem atenção aos detalhes. Resolva o máximo de provas anteriores da FGV, especialmente as de nível superior e das áreas correlatas, para se familiarizar com o formato, o tipo de pegadinha e a profundidade da cobrança”, acrescenta.
QUAIS SÃO AS VAGAS DO BLOCO 1?
*O salário pode variar conforme titulação: graduação, especialização, mestrado ou doutorado
Órgão | Cargo | Salário Inicial (R$)* | Quantidade de Vagas |
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Comando da Marinha | Enfermeiro | 5.982,49 | 5 |
Comando da Marinha | Médico | 4.804,89 | 65 |
Comando do Exército | Assistente social | 5.982,49 | 5 |
Comando do Exército | Enfermeiro | 5.982,49 | 30 |
Comando do Exército | Médico | 4.804,89 | 10 |
Comando do Exército | Nutricionista | 5.982,49 | 5 |
Comando do Exército | Psicólogo | 5.982,49 | 5 |
Fundacentro (Fundação Jorge Duprat Figueiredo, de Segurança e Medicina do Trabalho) | Pesquisador | 7.710,83 | 2 |
Fundacentro | Tecnologista | 7.710,83 | 8 |
Hospital das Forças Armadas | Especialista em atividades hospitalares | 5.897,11 | 50 |
Hospital das Forças Armadas | Médico | 4.329,69 | 50 |
INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) | Analista do seguro social | 8.027,11 | 238 |
Ministério da Gestão e Inovação | Assistente social | 5.982,49 | 26 |
Ministério da Gestão e Inovação | Médico | 4.804,89 | 134 |
Ministério da Gestão e Inovação | Psicólogo | 5.982,49 | 12 |
Ministério da Saúde | Analista de gestão em pesquisa e investigação biomédica | 7.710,83 | 3 |
Ministério da Saúde | Analista em ciência e tecnologia | 7.710,83 | 9 |
Ministério da Saúde | Assistente Social | 5.982,49 | 1 |
Ministério da Saúde | Biólogo | 5.982,49 | 3 |
Ministério da Saúde | Enfermeiro | 5.982,49 | 22 |
Ministério da Saúde | Farmacêutico | 5.982,49 | 4 |
Ministério da Saúde | Fisioterapeuta | 5.982,49 | 29 |
Ministério da Saúde | Fonoaudiólogo | 5.982,49 | 4 |
Ministério da Saúde | Médico | 5.982,49 | 38 |
Ministério da Saúde | Nutricionista | 5.982,49 | 2 |
Ministério da Saúde | Pesquisador | 7.710,83 | 19 |
Ministério da Saúde | Psicólogo | 5.982,49 | 2 |
Ministério da Saúde | Tecnologista | 7.710,83 | 2 |
Ministério da Saúde | Terapeuta ocupacional | 5.982,49 | 6 |
VEJA O CALENDÁRIO DO CNU 2025
Inscrições | das 10h de 02/07/25 até 23h59 de 20/07/25 (pagamento até 21/07) |
Solicitação da isenção da taxa de inscrição | 02/07/2025 a 08/07/2025 |
Prova objetiva | 05/10/2025 |
Convocação para prova discursiva | 12/11/2025 |
Convocação (confirmação de cotas e PcD) | 12/11/2025 |
Envio de títulos | 13/11/2025 a 19/11/2025 |
Procedimentos de confirmação de cotas | 8/12/2025 a 17/12/2025 |
Prova discursiva para habilitados na 1ª fase | 07/12/25 |
Previsão de divulgação da primeira lista de classificação | 30/01/2026 |