Onde reinam ideologias conflitantes, não é apenas a política que se encontra dividida. A consciência individual, aquilo que deveria guiar nossas escolhas mais profundas, também parece ter sido sequestrada por lealdades partidárias e interesses de grupo. É esse o ponto de partida do mais recente episódio do Última Análise, apresentado por Paulo Polzonoff Jr. e Francisco Escorsim.
Partindo de três obras cinematográficas — Uma Vida Oculta, de Terrence Malick, Silêncio, de Martin Scorsese, e O Homem Que Não Vendeu Sua Alma, de Fred Zinnemann — o programa constrói um diálogo intenso sobre coragem moral, sacrifício pessoal e o que significa manter-se fiel à verdade, mesmo quando isso cobra um preço alto.
Vender a alma
Entre as reflexões, surge um exemplo recente e polêmico: o caso de Filipe Martins, ex-assessor especial da Presidência, que se recusou a fazer delações para se livrar de acusações. Para alguns, um gesto de coragem e integridade; para outros, uma escolha política calculada. A provocação de Polzonoff vai além: será que a lealdade ideológica, mesmo quando parece nobre, não é também uma forma de “vender a alma”?
Ao longo do episódio, perguntas incômodas se acumulam: quantas vezes você deixou de criticar alguém do “seu lado” para não dar munição ao adversário? Até que ponto o medo de rótulos — “esquerdista”, “bolsonarista”, “isentão” — molda seu comportamento público? E, talvez a mais dura: se falar a verdade custasse sua carreira, seu conforto e sua paz, você ainda teria coragem de fazê-lo?
Martírio
O Última Análise não se limita a um exercício filosófico. Ao conectar dilemas morais retratados no cinema com a realidade brasileira, o programa mostra que o martírio não é apenas coisa de santos ou mártires históricos. No Brasil de hoje, defender o direito de alguém expressar uma opinião impopular já pode ser um ato de resistência. E, muitas vezes, isso exige suportar perseguição, isolamento e até difamação.
Polzonoff e Escorsim também questionam se a disposição para o martírio ainda existe no Brasil contemporâneo ou se foi substituída pela busca incessante por curtidas, seguidores e relevância nas redes sociais. O debate, longe de oferecer respostas fáceis, funciona como um espelho para o espectador, convidando-o a examinar suas próprias concessões e silêncios.
Qual é o preço da sua consciência?
Mais do que um comentário político, o episódio se apresenta como uma oportunidade de reflexão pessoal. Em tempos em que a verdade muitas vezes se dobra à conveniência, talvez a pergunta central seja esta: qual é o preço da sua consciência?
O novo Última Análise está disponível no canal da Gazeta do Povo no YouTube. Prepare-se para confrontar ideias, rever certezas e, quem sabe, descobrir até onde você está disposto a ir para não vender a sua alma.
