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Cuiaba - MT / 15 de agosto de 2025 - 0:45

Thomas Sowell: como a linguagem camufla o que acontece no aborto

Já chegou às livrarias o segundo volume da coleção “Thomas Sowell Essencial” (selo Avis Rara), que compila ensaios, artigos acadêmicos, colunas para jornais e cartas escritas pelo economista americano nos últimos 50 anos.

Neste livro, o foco está em reflexões sobre leis, raça, etnia e educação — temas que Sowell analisa com sua conhecida combinação de clareza intelectual, rigor analítico e coragem moral.

No trecho a seguir, o autor lança um olhar contundente sobre o debate em torno do aborto. Longe dos slogans e das fórmulas políticas gastas, ele examina como a linguagem, a mídia e o sistema legal moldam percepções (e, por vezes, encobrem verdades difíceis de encarar).

Um certo professor que ensina estudantes que aspiram a se tornar fonoaudiólogos começa mostrando o desenvolvimento de diversos órgãos envolvidos na fala. Quando ele mostra para sua turma uma imagem de ultrassom do desenvolvimento do palato em um bebê não nascido, não é incomum que uma ou duas alunas tenham lágrimas nos olhos, ou digam ao professor que fizeram um aborto e se sentiram muito tocadas ao ver a aparência de um bebê não nascido.

Por muito tempo, fomos levados a crer que um aborto é a remoção de um material não formado, algo semelhante a uma operação de apêndice. A própria expressão “bebê não nascido” quase desapareceu da linguagem, sendo substituída pelo termo mais frio e limpinho “feto”.

Muitos defensores eloquentes que se declaram “pró-escolha” não querem que as mulheres tenham a escolha de saber exatamente o que estão escolhendo antes de fazer um aborto. Uma oposição feroz impediu a exibição de imagens de um aborto em andamento — mesmo em escolas ou faculdades que exibem filmes de adultos nus realizando vários atos sexuais.

Fotografias de fetos abortados também foram proibidas. O procedimento especialmente macabro conhecido como “aborto por nascimento parcial” nem sequer pode ser mencionado na maior parte da mídia, onde é chamado de “aborto tardio” — outro termo frio e que desloca o foco do que acontece para quando acontece.

Camuflagem da mídia

O que ocorre em um aborto por nascimento parcial é que um bebê que se desenvolveu demais para morrer naturalmente ao ser removido do corpo da mãe é deliberadamente morto ao ter seu cérebro sugado. Quando isso é feito, o bebê não está completamente fora do corpo da mãe porque, se estivesse, o médico seria acusado de assassinato.

Não há razão médica para esse procedimento, que foi condenado pela American Medical Association. Há apenas uma razão legal: impedir que o médico e a mãe sejam presos.

Tudo isso é tranquilamente camuflado na mídia ao chamar tais ações de “aborto tardio” e se recusar a descrever o que acontece. Tais padrões de evasões e ofuscações revelam que, na prática, “pró-escolha” costuma significar realmente pró-aborto.

O conhecimento é a primeira coisa sendo abortada. As questões filosóficas sobre quando a vida começa podem preocupar algumas pessoas em ambos os lados da controvérsia sobre o aborto.

Porém, os fatos físicos brutos do que acontece em diversos tipos de aborto têm levado muitos outros indivíduos, incluindo médicos, a passarem de pró-aborto para antiaborto. Um médico que tinha realizado muitos abortos nunca mais fez outro depois de ver um vídeo de ultrassom das reações do bebê.

Com a maior parte dos procedimentos médicos, o “consentimento informado” é o lema. Porém, quando se trata de aborto, são feitos grandes esforços para evitar que a “escolha” se torne informada de maneira adequada.

Mentira flagrante

Política e legalmente, a questão do aborto é complexa demais para uma solução fácil. Atravessamos um quarto de século de amarga controvérsia justamente porque a Suprema Corte optou por uma solução fácil em 1973 com a decisão do caso Roe v. Wade [que estabeleceu o direito constitucional ao aborto nos EUA e foi posteriormente revogada em 2022].

Antes disso, diversos estados tinham tomado iniciativas divergentes para enfrentar e conciliar preocupações importantes de ambos os lados referentes à questão do aborto.

Porém, Harry Blackmun, juiz da Suprema Corte, precipitou-se e tomou uma arriscada e perigosa decisão genérica, embasada na flagrante mentira de que isso estava de acordo com a Constituição. Longe de resolver os problemas, o caso Roe v. Wade resultou em polarização e tensão crescente em todo o país, incluindo atentados a bomba e assassinatos.

Corrompeu a mídia, a academia e outras fontes que deveriam informar, mas que, em vez disso, se tornaram órgãos partidários do politicamente correto. Contudo, entre as maneiras pelas quais essa questão extremamente polêmica será resolvida por fim — e não há solução à vista hoje —, inclui-se certamente a honestidade [este texto foi publicado pela primeira vez em 2010, portanto antes da revogação da decisão].

Clichês políticos como “o direito da mulher de fazer o que quiser com seu próprio corpo” não podem ser aplicados em situações em que um bebê é morto no exato momento em que deixa de ser parte do corpo de sua mãe. Um dos poucos sinais de esperança para uma solução definitiva é que a maioria das pessoas de ambos os lados dessa controvérsia não está feliz com os abortos.

As mulheres que choraram ao ver um bebê não nascido podem não estar politicamente comprometidas com nenhum dos lados dessa questão, mas seus sentimentos podem ser parte do que é necessário para conciliar os lados opostos.

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Cuiaba - MT / 15 de agosto de 2025 - 0:45

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