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Cuiaba - MT / 4 de julho de 2025 - 3:09

Rússia é o 1º país a reconhecer o Talibã como governo do Afeganistão

A Rússia tornou-se nesta quinta (3) o primeiro país do mundo a reconhecer a milícia fundamentalista Talibã como o governo legítimo do Afeganistão, quase quatro anos após os radicais retomarem o poder em Cabul.

Trata-se de um marco numa complexa relação entre os países, que passou pela invasão soviética do Afeganistão nos anos 1980 e a designação dos talibãs como terrorista pelo governo de Vladimir Putin em 2003, medida que durou até abril deste ano.

Por trás do movimento russo há a intenção de restabelecer influência nas fronteiras da Ásia Central e do sul do continente, onde fica o Afeganistão, remontando à atuação prevalente de Moscou durante os tempos de império (1613-1917) e da União Soviética (1922-1991).

Desde o fim da Guerra Fria, em 1991, a China ocupou tal espaço com sua crescente pujança econômica, tornando-se o principal parceiro econômico das nações da Ásia Central, antes parte do império soviético. Projetos de infraestrutura se multiplicam, afastando países importantes como o Cazaquistão da órbita de Moscou.

Isso ocorre mesmo com Pequim e Moscou em forte aliança, desenhada no escopo da Guerra Fria 2.0 contra os EUA, que continua firme mesmo com a aproximação de Donald Trump e Putin.

Um caso peculiar é o do Paquistão, país de cujos serviços de inteligência foi parido o Talibã no início dos anos 1990. Ali o Kremlin não tinha vez, mas a China tomou o lugar dos Estados Unidos após o fracasso da chamada Guerra ao Terror, os conflitos iniciados no Oriente Médio e no Sul da Ásia após o ataque terrorista do 11 de setembro de 2001 contra os EUA.

O Afeganistão, fortemente ligado a Islamabad, pagou o preço por ter abrigado Osama bin Laden e seus fanáticos da rede Al Qaeda. O saudita havia lutado contra os soviéticos contra a ocupação de 1979 a 1989 do país, e a partir do refúgio dado pelos antigos aliados lançou os ataques às Torres Gêmeas e ao Pentágono.

Tudo isso é história. Bin Laden foi morto pelos americanos no Paquistão em 2011, Islamabad virou uma dependência econômica chinesa, e o Talibã voltou ao poder em 15 de agosto de 2021, 20 anos após ser chutado pelos EUA. Naquele dia, suas forças entraram numa Cabul já no atabalhoado processo de saída dos últimos americanos e ocidentais presentes.

Apesar das promessas de moderação, o grupo reinstalou uma versão 2.0 de seu Emirado Islâmico, onde a lei religiosa lida de forma tortuosa promove perseguições, execuções e tolhe as mulheres da vida pública. Se não parece tão medonho quanto na sua primeira encarnação como governo, está longe de ser um paraíso dos direitos humanos.

Quando assumiu o poder em 1996, após a guerra civil que decorreu do fracasso do governo local após a saída dos soviéticos, o Talibã implantou um califado medieval que só foi reconhecido por três países com interesses diretos em manter influência nas costas do Irã, vizinho xiita dos radicais sunitas.

Eram eles a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e, claro, o Paquistão que seguiu financiando as atividades talibãs mesmo depois de a retaliação americana pelo 11 de Setembro virar uma ocupação fadada ao fracasso, como a Folha mostrou em 2011.

Logo após a debacle americana, os chineses se aproximaram dos radicais. Mas, talvez escolados pela difícil presença no Paquistão, onde são comuns ataques a trabalhadores de Pequim, não aceleraram o processo como os russos.

Neste ano, após a retirada do rótulo de terrorista do grupo, Moscou buscou a normalização das relações e aceitou a presença de um novo embaixador afegão no país. Pouco antes do anúncio desta quinta, foi a vez da temida bandeira branca com a Shahada, a declaração da fé islâmica, do grupo tremular na representação do país em Moscou.

Do ponto de vista econômico, a vantagem mais óbvia para Moscou é o acesso a minerais do Afeganistão, mas isso parece lateral no momento. Além da questão geopolítica, a ligação com os talibãs permite algum grau de controle sobre insurgências: tanto o grupo quanto Moscou são alvos de ataques de facções islâmicas ainda mais radicais, como esbirros do Estado Islâmico.

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Cuiaba - MT / 4 de julho de 2025 - 3:09

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