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Cuiaba - MT / 2 de julho de 2025 - 23:30

Por que sucessão do dalai-lama incomoda China

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Tenzin Gyatso, o dalai-lama, vai discursar nesta semana para mais de cem líderes budistas no maior encontro do tipo desde 2019, dias antes de completar 90 anos.

Seguidores esperam que ele dê sinais sobre sua sucessão, tema que incomoda a China, que o vê como separatista e quer controlar a escolha de seu herdeiro espiritual.

  • Dalai-lama é um título, não um nome. Ele é atribuído à pessoa que no budismo tibetano seria a reencarnação do Buda da Compaixão, em uma linhagem iniciada em 1391.

Exilado na Índia desde 1959, o líder tibetano já disse que sua próxima encarnação pode nascer fora da China. Autoridades do Tibete em exílio acusam Pequim de tentar usar a tradição para fins políticos.

O religioso já tinha indicado que só falaria sobre sua sucessão quando chegasse aos 90. Isso porque, da última vez que apontou a reencarnação do panchen-lama, responsável por identificar sua nova forma, Pequim aprisionou a criança, e ela e seus pais nunca mais foram vistos em público.

Em geral, discussões sobre a reencarnação não costumam ocorrer enquanto um monge ainda está vivo, mas seguidores de Gyatso alertam sobre a necessidade de fazê-lo agora devido a alegadas tentativas de interferência do governo chinês.

O evento deve acontecer neste sábado (5), um dia antes do aniversário do monge. Na plateia já estão confirmados convidados ilustres como o ator Richard Gere e o ministro para assuntos parlamentares indiano, Kiren Rijiju.

Por que importa: a sucessão do dalai-lama assusta a comunidade internacional porque o vácuo de poder ou tentativas burocráticas do Partido Comunista em escolher uma reencarnação por conta própria podem desencadear protestos em massa no Tibete.

Sabendo do risco, Gyatso vem preparando fiéis para a morte e, desde 2011, admite ter na liderança do seu povo um governador democraticamente eleito, o que encerraria uma tradição de 368 anos em que o dalai-lama ocupa o cargo de chefe político e espiritual dos tibetanos.


Pare para ver

O que também importa

Um mural popular em Chengdu, que retratava o panda Huahua, símbolo local, foi coberto por uma pintura do brinquedo Labubu, o que causou protestos. Para moradores, trocar o panda por um personagem da moda apaga parte da identidade da cidade. Autoridades disseram que a mudança foi feita por lojistas para atrair clientes sem aval oficial. A Pop Mart, dona da marca Labubu, declarou que o grafite não foi autorizado e que processará os responsáveis por violação de direitos autorais.

Com o lançamento do SUV elétrico Xiaomi YU7, o fundador da empresa, Lei Jun, rebateu comparações com o Tesla Model Y dizendo estar “confiante na vitória” contra os modelos de Elon Musk. Para ele, rivais fortes devem ser desafiados. A marca chinesa apostou num utilitário esportivo que combina dirigibilidade, luxo e praticidade. Em tom bem-humorado, internautas chineses perguntaram a três IAs quem leva a melhor: as respostas variaram, mas apontaram o YU7 como mais ousado —já o Model Y mantém vantagem na reputação. Ainda assim, o carro vendeu 200 mil unidades até o momento e o site da Xiaomi conta com uma fila de espera para compradores que vai até 2027.

O setor manufatureiro da China mostrou expansão inesperada em junho, segundo o índice de gerentes de compras (PMI) privado da revista de negócios chinesa Caixin. O indicador, que mede a atividade de fábricas e serviços, subiu para 50,4, superando previsões de retração. Em maio, o índice estava em 48,3. O avanço é atribuído a melhores condições comerciais e ações para impulsionar as vendas, que elevaram o número de novos pedidos. Apesar da demanda externa fraca, pressionada por tarifas dos EUA, o resultado animou investidores após o PMI oficial apontar queda pelo terceiro mês seguido.


Fique de olho

Depois de quase dois anos, a China retomou as importações de pescados japoneses. A suspensão tinha sido imposta em agosto de 2023, quando os japoneses decidiram liberar no mar a água residual de um dos reatores da usina nuclear de Fukushima.

  • À época, a decisão despertou a fúria não só em Pequim mas também entre sul-coreanos, que temiam contaminação cruzada por radiação.
  • Japoneses responderam com eventos de degustação de sushis com peixes pescados próximo à região do desastre nuclear, como forma de provar sua segurança para consumo humano.

Para exportar, empresas japonesas precisarão registrar fábricas e apresentar certificados de saneamento, radioatividade e origem. Produtos vindos de Fukushima, Miyagi e Tóquio continuam proibidos.

As autoridades chinesas prometeram fiscalização rigorosa e disseram que podem barrar novos carregamentos caso encontrem riscos à saúde ou falhas de supervisão.

Por que importa: o caso azedou a já complicada diplomacia entre os dois países, mas, agora, diante de um esforço chinês em elaborar uma frente coesa no leste asiático contra as tarifas de Trump, o assunto parece finalmente superado. Japão, China e Coreia do Sul chegaram a prometer por meio de seus respectivos chanceleres que responderiam a ações unilaterais tomadas pelo presidente americano de forma coordenada.


Para ir a fundo

É semana de Brics no Rio de Janeiro e a PUC-Rio vai sediar um evento paralelo nesta quinta (3) com a participação de diplomatas brasileiros e chineses. O encontro deve trazer palestras sobre IA, transição energética e finanças. Informações aqui. (gratuito)

A Revista IDeAS (CPDA/UFRRJ) está recebendo artigos para o dossiê “Relações China–América Latina: investimentos, ambiente e agricultura”. As submissões vão até o dia 24 de julho, conforme normas e orientações no site da publicação aqui. (gratuito)

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Cuiaba - MT / 2 de julho de 2025 - 23:30

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