Você já parou para pensar por que figuras como Alexandre de Moraes, Sérgio Moro, Jair Bolsonaro, Bukele e até personagens fictícios como o Capitão Nascimento conquistam tanta admiração no Brasil? A mais recente edição do programa “Última Análise”, com os colunistas Paulo Polzonoff Jr. e Francisco Escorsim, mergulha de cabeça nesse tema polêmico: o arquétipo do justiceiro na cultura brasileira.
Com leveza e ironia, eles propõem a pergunta que guia o programa: o ministro Alexandre de Moraes virou o Capitão Nascimento de toga? A comparação, que pode soar provocativa à primeira vista, é o ponto de partida para uma reflexão mais profunda sobre o imaginário nacional e o que ele diz sobre nosso momento político, jurídico e cultural.
Do Código de Hamurabi à Ilíada
A figura do justiceiro não é nova. Está presente desde os mitos fundadores da civilização, do Código de Hamurabi à Ilíada. Mas no Brasil de 2025 esse símbolo ganhou um novo rosto: careca, de toga e com poder quase absoluto. Alexandre de Moraes, que recentemente foi sancionado com a Lei Magnitsky por violações aos direitos humanos, é visto por muitos como o “homem que faz o que precisa ser feito”. Mas a que custo?
Talvez o sucesso do arquétipo esteja ligado à sensação de abandono das instituições democráticas. Afinal, as pessoas perderam a fé no voto, na Constituição e na Justiça. Elas só querem alguém que resolva. O “Última Análise” explora ainda o conceito freudiano do “pai primordial” — figura temida, fundadora da ordem e, ao mesmo tempo, geradora de traumas.
Tropa de Elite
Alexandre de Moraes, portanto, seria um herói trágico como o Capitão Nascimento no primeiro “Tropa de Elite”. Ou talvez já tenha virado parte do sistema corrupto que dizia combater, como o Capitão Nascimento no segundo filme. De qualquer forma, vale a pergunta: por que o brasileiro parece incapaz de diferenciar força legítima de autoritarismo?
“Nada está na realidade política de um país que não esteja primeiro na sua literatura”, dizia o poeta Hugo von Hofmannsthal. Uma frase muito repetida por Olavo de Carvalho. Daí porque é importante recorrer à cultura para entender fenômenos políticos como Alexandre de Moraes.
Peninha
Filmes como o renegado “Tropa de Elite” e até o seriado “O Mecanismo”, ambos de José Padilha, foram peças fundamentais na construção simbólica do justiceiro. Uma construção lenta que também contou com a ajuda da imprensa, da música popular e de livros como “Cidade de Deus”, que também virou filme.
Se você quer entender o Brasil de hoje não apenas pelos fatos, mas também pelas histórias que contamos e consumimos, o “Última Análise” desta sexta (8) é imperdível. Mas atenção! Prepare-se para terminar do programa com mais dúvidas do que certezas. E até com peninha dessa figura patética que é o justiceiro.