A decisão pelo fechamento da via marítima, responsável por escoar 30% do petróleo global, ainda precisa passar pelo Conselho Supremo de Segurança Nacional e pelo aiatolá Khamenei para entrar em vigor. Analistas do mercado financeiro, no entanto, já preveem impactos negativos para a economia mundial. Conflito no Oriente Médio: o papel estratégico do Estreito de Ormuz
O Parlamento do Irã aprovou neste domingo (22) o fechamento do Estreito de Ormuz. A medida retaliatória vem após o bombardeio ordenado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra instalações nucleares iranianas, em meio à guerra entre Irã e Israel. (leia mais abaixo)
A decisão ainda precisa passar pelo Conselho Supremo de Segurança Nacional e pelo aiatolá Khamenei para entrar em vigor. No entanto, o provável bloqueio da principal via marítima de transporte mundial de petróleo já causa grandes preocupações nos mercados globais.
O estreito é responsável pelo fluxo de cerca de 30% de todo o petróleo comercializado globalmente, segundo dados da Agência Internacional da Energia (AIE). Além disso, a via marítima é crucial para o transporte de gás natural liquefeito (GNL), com 20% do comércio mundial.
O fechamento da rota pode afetar a oferta da commodity no mercado global, fazendo o preço do barril de petróleo disparar. Há ainda efeitos na inflação: com o petróleo mais caro, sobem os preços de energia e transportes, com reflexos nos custos de alimentos e insumos industriais.
Os riscos geopolíticos, aliados aos impactos do petróleo (com o aumento de custo para as empresas), também devem deixar as bolsas no vermelho já na abertura dos mercados nesta segunda-feira (23). Em cenários de incerteza, investidores buscam ativos mais seguros, como o dólar — o que tende a fortalecer a moeda norte-americana.
Disparada no preço do petróleo
Para analistas do mercado financeiro, o fechamento do Estreito de Ormuz pelo Irã deve se concretizar. Assim, os preços do petróleo devem subir, incialmente, cerca de 20%, projeta o economista André Perfeito.
“Hoje, o petróleo do tipo Brent está cotado a US$ 77,27. A primeira resistência gráfica está situada no patamar de US$ 92,00. Logo, podemos imaginar o teste desta marca rapidamente, o que implica falar numa alta de 20% em relação ao patamar atual”, afirma.
Segundo ele, os preços devem subir ainda mais caso o conflito se estenda ao longo dos próximos dias. Nesse caso, o economista estima que o barril poderá avançar até 40%, acima de US$ 110. Seria um nível próximo ao pico de 2022, quando se intensificaram os conflitos entre Rússia e Ucrânia.
“O dólar deve disparar nesta segunda-feira, na esteira do aumento do ruído global. Contudo, sugiro, mais uma vez, cautela. Lembremos que o Brasil tem relação positiva com petróleo, uma vez que somos grandes produtores”, pondera.
Já no início do conflito, analistas do JPMorgan afirmaram que, no pior cenário, o fechamento do estreito ou uma retaliação por parte dos principais produtores de petróleo da região poderia elevar os preços para a faixa de US$ 120 a US$ 130 por barril.
Navio passa pelo estreito de Ormuz
REUTERS/Hamad I Mohammed/File Photo
Riscos para a inflação
Apesar do cenário ainda incerto, analistas do JPMorgan avaliam o bloqueio do Estreito de Ormuz como o “pior cenário possível”. Eles sugerem que a medida poderia elevar a inflação nos EUA para 5% — hoje, a taxa está em 2,4%, acima da meta de 2% do Federal Reserve (Fed), o banco central do país.
Mas os efeitos devem ter uma abrangência muito maior, aponta o especialista em comércio exterior Jackson Campos. Ele afirma que haverá um “verdadeiro efeito dominó na economia global”, com impactos diretos sobre valor de combustíveis, custo de frete e preço final dos produtos.
“Para o Brasil, isso significa aumento no preço da gasolina, do diesel e até de alimentos. O transporte de cargas por navios também fica mais caro, o que afeta as exportações e importações brasileiras”, diz.
“Além disso, empresas que dependem de produtos vindos do exterior podem enfrentar atrasos e escassez de insumos. No mundo todo, a expectativa é de inflação, mais pressão sobre as cadeias de suprimentos e risco de novos conflitos”, acrescenta.
Impacto nos mercados
Além da disparada do dólar, analistas do mercado financeiro preveem queda nas bolsas nesta segunda, em um movimento de aversão ao risco — ou seja, uma migração para ativos considerados mais seguros, como a moeda norte-americana.
“Podemos esperar, sim, por uma abertura no vermelho. Ainda não é o pior cenário, na minha concepção. Porém, se realmente não for passar mais esse petróleo [pelo Estreito de Ormuz], as coisas podem azedar”, diz Marcos Praça, diretor de análise da Zero Markets Brasil.
O impacto completo, no entanto, ainda dependerá da resposta dos investidores, da evolução do conflito e da confirmação de bloqueio da principal via marítima para o escoamento do petróleo global.
“Os mercados ficarão alarmados inicialmente”, disse à Reuters Mark Spindel, diretor de investimentos da Potomac River Capital. “Não temos uma avaliação de danos ainda, e isso levará algum tempo”, acrescentou.
“A incerteza vai dominar os mercados, já que agora os americanos em todos os lugares estarão expostos. Isso vai aumentar a incerteza e a volatilidade, particularmente no petróleo”, acrescentou.
Após o ataque dos EUA a três instalações nucleares do Irã, um comentarista da televisão estatal iraniana afirmou que “todo cidadão americano ou militar na região é, agora, um alvo legítimo”.
O comentarista ainda deixou um recado ao presidente americano: “Trump, você começou. Nós vamos terminar.”
Outros indicadores já dão o tom dos mercados nesta semana, dizem analistas. A cotação da criptomoeda ether (a segunda maior do mercado), por exemplo, caiu quase 10% neste domingo. O bitcoin, que também é negociado todos os dias, chegou a recuar 3%.
“Isso já demonstra um sentimento de aversão a ativos de risco”, conclui Marcos Praça, diretor de análise da Zero Markets Brasil.
Estreito de Ormuz
Arte/g1
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Fonte: G1