O presidente Donald Trump reuniu-se com o presidente russo Vladimir Putin na última semana para a aguardada cúpula em Anchorage, no Alasca.
Vale lembrar que a última vez que diplomatas americanos de alto escalão — Jake Sullivan e Antony Blinken, respectivamente secretário de Estado e conselheiro de segurança nacional da administração Biden — se encontraram com autoridades chinesas, foram humilhados, e nada resultou do encontro.
Trump acreditava que poderia negociar um cessar-fogo. Após três horas, ambos os líderes saíram para fazer declarações à imprensa, sem abertura para perguntas.
Putin proferiu um longo discurso, que pode ser descrito como uma enumeração de queixas russas e um apelo por uma relação mais amigável com os Estados Unidos. Foi uma tentativa de aproximação, não com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy, a Ucrânia ou a Europa, mas diretamente com os EUA.
O discurso alinha-se à estratégia russa de considerar Trump um líder forte, mas também mais flexível, ou pelo menos mais maleável, em buscar um acordo de paz, em contraste com a postura de “fazer o que for preciso” da administração Biden. Putin acredita que os europeus estão exaustos após três anos e meio de conflito e que a Ucrânia está esgotada. Assim, ele busca convencer Trump a encerrar o conflito em termos favoráveis à Rússia.
Quais são esses termos? Trump não os detalhou em sua declaração à imprensa após a cúpula. Ele não demonstrou desânimo, nem afirmou que um cessar-fogo deveria ter sido alcançado. Apenas mencionou que diversos pontos foram, de certa forma, concluídos com sucesso entre ele e Putin. No entanto, destacou que, para os principais impasses, será necessário dialogar com os europeus, o que era necessário, e com o presidente Zelenskyy.
Sabemos quais são os contornos da questão, não é? Já discutimos isso. A Ucrânia não ingressará na OTAN. Eles não possuem a capacidade militar necessária. Têm a vantagem moral e o direito moral, mas carecem dos recursos militares. Nem a Europa, nem os Estados Unidos estão dispostos a ir tão longe a ponto de fornecê-los contra uma Rússia nuclear para reconquistar o Donbas — todo o Donbas — ou a Crimeia.
O ponto de impasse, no momento, é que os dois exércitos estão travados no Donbas, em uma linha oscilante de 50 a 100 milhas a partir das fronteiras russas. Poderia haver uma zona desmilitarizada (DMZ), como a da Coreia, que serviria como base para uma fronteira permanente. O problema é que Putin ainda não controla todo o Donbas e as regiões adjacentes, enquanto os ucranianos estão se fortalecendo.
Ambos os lados estão exaustos. Estima-se que haja um milhão e meio de baixas — feridos, mortos, desaparecidos e capturados. A Rússia, no entanto, possui maiores reservas que a Ucrânia. Assim, há um desejo mútuo por um armistício.
O obstáculo é que a Constituição ucraniana não permite que Zelenskyy ceda território a um invasor estrangeiro sem o consentimento do parlamento. Por outro lado, Putin acredita que ainda não desgastou suficientemente os ucranianos ou conquistou território suficiente no leste para justificar a invasão em larga escala, que provavelmente já custou cerca de um milhão de russos.
Mas o ponto central é o seguinte: há muitas críticas a Donald Trump por não ter confrontado Vladimir Putin abertamente. Não entendo bem essa crítica.
Lembre-se de que, durante a Segunda Guerra Mundial, Josef Stalin foi responsável pela morte de 20 milhões de seus próprios cidadãos. Ele invadiu a Polônia livre, ao lado da Alemanha nazista, atacou a Finlândia em 1939 e 1940, anexando 10% de seu território, e colaborou com a Alemanha de 1º de setembro de 1939 até 22 de junho de 1941. Era nosso inimigo. Só quando a Alemanha se voltou contra ele, Stalin buscou nossa aliança. Aceitamos essa parceria porque ele era útil, fornecendo bilhões de dólares em ajuda. Cerca de 30% dos recursos de Stalin vieram do Império Britânico ou do governo dos EUA.
O presidente Franklin D. Roosevelt se encontrou com ele em Yalta, chamando-o até de “Tio Joe” — um homem que matou 20 milhões de seus próprios compatriotas.
Em 1972, o presidente Richard Nixon foi à China, buscando redefinir a ordem global estratégica, jogando a Rússia contra a China em benefício dos EUA. Ele se sentou com Mao Tsé-Tung, o maior assassino em massa da história, responsável pela morte de 70 milhões de pessoas.
Deveria Donald Trump evitar se encontrar com Putin? Ou deveria adotar o vocabulário do presidente Joe Biden, chamando-o de “assassino”, “bandido” ou “criminoso”, como Biden fez, prometendo “fazer o que for preciso”? Há apoio para um cheque em branco ilimitado à Ucrânia? Não. Trump tenta lidar com um assassino, assim como presidentes anteriores fizeram com assassinos em massa.
Além disso, embora existam os contornos de um possível acordo de paz, Trump não é responsável por essa guerra. Como o homem mais poderoso do mundo, ele busca ajudar a Ucrânia a alcançar um acordo justo.
O presidente Donald Trump tem trabalhado com os europeus e fortalecido a OTAN. No entanto, é importante lembrar que, nas últimas quatro administrações, a Rússia de Vladimir Putin invadiu a Geórgia sob o presidente George Bush, anexou a Crimeia e partes do Donbas durante o governo de Barack Obama, e tentou tomar Kiev sob a administração de Joe Biden. Durante o mandato de Trump, porém, não houve avanços russos significativos.
Trump não foi o responsável pelo fracassado “reset” nas relações com a Rússia. Em 2009, em Genebra, Hillary Clinton tentou simbolicamente apertar um “botão de reinício” para melhorar as relações com Moscou, promovendo a ideia de que a Rússia deveria se democratizar e se alinhar ao Ocidente. No entanto, essas promessas não foram respaldadas por ações concretas, resultando em uma postura de retórica forte, mas sem poder real — falando alto enquanto carregava apenas um “graveto”, em vez de falar suavemente com um “porrete”.
Trump também não teve envolvimento com os esforços da diplomata americana Victoria Nuland para integrar a Ucrânia à OTAN ou interferir no governo ucraniano. Ele e sua família não buscaram lucrar com o governo da Ucrânia, ao contrário de Joe Biden, que, segundo alegações, ameaçou reter ajuda financeira americana para pressionar pela demissão de um procurador ucraniano.
Trump, por sua vez, forneceu armas ofensivas à Ucrânia, que haviam sido embargadas por Biden, e adotou uma postura mais dura contra os russos. Ele se opôs ao gasoduto Nord Stream 2, alertando a Alemanha, eliminou membros do grupo Wagner e abandonou um tratado de mísseis assimétrico. Em resumo, Trump não tem qualquer responsabilidade direta pela guerra na Ucrânia.
Trmp não fez como Biden, que, ao assumir o cargo, declarou que a reação dos Estados Unidos dependeria de ser uma “invasão menor” — uma frase que, na prática, deu sinal verde a Vladimir Putin. Além disso, Biden suspendeu o envio de armas ofensivas à Ucrânia, enfraquecendo a posição do país.O que está em jogo na cúpula? Putin busca conquistar a simpatia dos EUA para que recuem no apoio à Ucrânia, permitindo à Rússia avançar mais a oeste e desgastar ainda mais as forças ucranianas. Apesar disso, o exército ucraniano tem se mostrado resiliente, resistindo e buscando apoio suficiente para pressionar Putin. Entre esses dois extremos, a criação de uma zona desmilitarizada (DMZ) surge como possibilidade.
Caso um acordo de paz seja alcançado, será, queira o espectro político de esquerda ou não, resultado do trabalho de Donald Trump — o único líder mundial, entre os três envolvidos, que não tem responsabilidade pelo início desta guerra. O conflito não começou durante seu mandato, não foi consequência de suas políticas, e certamente não foi sua culpa que Vladimir Putin tenha invadido a Ucrânia, ameaçando a independência do povo ucraniano. Não foi Trump quem causou isso, mas pode ser ele quem colocará um fim ao conflito.
©2025 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês: Trump, Putin, and the Future of Ukraine’s War.