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Cuiaba - MT / 31 de julho de 2025 - 7:33

O que é o aceleracionismo, a tática de Eduardo Bolsonaro contra Moraes nos EUA 

Prepare-se para aprender mais um “ismo”: o aceleracionismo. Versão sofisticada do “quanto pior, melhor”, essa teoria política e filosófica nasceu nas franjas da esquerda radical, mas foi reinterpretada pela nova direita como uma estratégia para forçar rupturas históricas. Inclusive no Brasil de 2025. 

De acordo com os proponentes do aceleracionismo, os sistemas políticos, sociais ou econômicos só se transformam verdadeiramente quando são levados ao seu ponto de ruptura. Por isso, em vez de frear uma crise o aceleracionista tenta agravá-la. Em vez de reformar instituições, ele aposta em seu colapso transformador. 

Ainda pouco conhecido fora de círculos acadêmicos, o aceleracionismo ajuda a entender a estratégia política do deputado federal Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos. O deputado defende a aplicação de sanções internacionais contra autoridades brasileiras por evidentes violações de direitos humanos, bem como o uso de sanções econômicas para acelerar a queda do regime PT-STF.

O que é aceleracionismo? 

O aceleracionismo é uma corrente política e filosófica que defende a ideia de que, para superar um sistema considerado decadente ou opressor, como parece ser o caso da juristocracia brasileira, é preciso acelerar suas tendências internas até que ele entre em colapso. A proposta não é reformar o sistema, e sim intensificar suas contradições e expor suas falhas, a fim de provocar uma ruptura que permita a criação de uma nova ordem. 

Originalmente presente em leituras radicais da obra de Karl Marx (sim, Karl Marx!), o aceleracionismo apareceu pela primeira vez no romance de ficção científica “Senhor da Luz”, de Roger Zelazny, de 1967. O termo encontrou eco na obra de pensadores radicais como Gilles Deleuze e Félix Guattari, que em “O Anti-Édipo: Capitalismo e Esquizofrenia” propunham levar o capitalismo “ao limite”, em vez de confrontá-lo com métodos tradicionais. 

Em 2013, os filósofos Nick Srnicek e Alex Williams publicaram o “Manifesto por um Aceleracionismo de Esquerda. “O futuro foi cancelado. […] A política aceleracionista se recusa a aceitar a atualidade como destino”, escrevem eles. Srnicek e Williams acreditam que o aceleracionismo deve ser apropriado pela esquerda, a fim de recuperar o controle das forças produtivas e construir um novo projeto emancipador, com base na inovação tecnológica e na organização institucional eficiente. 

Aceleracionismo e a nova direita 

Embora inicialmente ligado à crítica do capitalismo, o aceleracionismo passou a influenciar movimentos da nova direita, que veem nas crises institucionais um caminho para reorganização política. É o famoso “quanto pior, melhor” que baseia o discurso antissistema. 

O influente blogueiro aceleracionista Curtis Yarvin, por exemplo defende que as democracias liberais devem ser substituídas por formas de governo centralizadas e eficientes, deixando o sistema apodrecer antes da restauração. Outro importante proponente do aceleracionismo é Steve Bannon. O ex-estrategista de Donald Trump defende a mentalidade aceleracionista em termos bastante enfáticos. “Sou leninista… Lenin queria destruir o Estado, e esse também é meu objetivo. Quero fazer tudo desmoronar e destruir o establishment”, disse ele em entrevista aos site Daily Beast. 

Já o filósofo britânico Nick Land, considerado o principal teórico do aceleracionismo de direita, defende que “as forças impessoais do capital e da tecnologia devem ser liberadas de qualquer contenção moral ou institucional, pois apenas sua aceleração total pode levar à superação da modernidade”. Na antologia Fanged Noumena, ele diz que “a história se move em direção à desintegração”. 

Essas ideias refletem a lógica de aceleração do colapso institucional, mesmo sem o uso explícito do termo “aceleracionismo”. Que, por sinal, também aparece em contextos improváveis. Em 2016, por exemplo, o filósofo esloveno Slavoj Žižek causou polêmica ao declarar que votaria em Donald Trump, não por afinidade, mas por acreditar que seu impacto disruptivo poderia “reviver a esquerda”. Dissidentes chineses, por sua vez, chamam Xi Jinping de “Acelerador-Chefe”, apostando que o autoritarismo do regime levará ao seu colapso inevitável. 

Eduardo Bolsonaro e a articulação por sanções ao Brasil 

Se as ideias de Bannon, Land e Yarvin ainda parecem distantes da realidade brasileira, basta olhar para o plano internacional de Eduardo Bolsonaro. 

Em fevereiro, o deputado e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro anunciou que se licenciaria do mandato para se exilar nos Estados Unidos. Além de escapar das garras autoritárias de Alexandre de Moraes, o exílio de Eduardo Bolsonaro pretendia “buscar sanções aos violadores de direitos humanos”. 

Quatro meses mais tarde, em julho, Eduardo Bolsonaro declarou que o tarifaço anunciado por Donald Trump seria apenas o início das sanções contra autoridades brasileiras envolvidas na supressão da liberdade de expressão e na perseguição a políticos de direita. 

Eduardo Bolsonaro nunca usou o termo “aceleracionismo”. Mas sua estratégia de mobilizar sanções internacionais contra autoridades brasileiras e de deslegitimar a atuação das instituições nacionais se alinha claramente à lógica aceleracionista. Ele não busca a reforma interna, até porque a considera impossível, e vê no desgaste diplomático e econômico um meio de provocar mudança ou ruptura institucional.  

Essa estratégia está de acordo com a proposta de acelerar conflitos internos a fim de promover uma lógica de transição ou revolucionária. Ou seja, é um amálgama do aceleracionismo transformador de esquerda e do aceleracionismo niilista de direita. 

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Cuiaba - MT / 31 de julho de 2025 - 7:33

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