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Cuiaba - MT / 27 de julho de 2025 - 15:24

O que acontece se Trump desligar o GPS do Brasil?

Em meio à tensão entre os governos Lula e Trump, a Folha de S. Paulo noticiou que as próximas sanções do governo americano poderiam incluir a desativação do GPS no Brasil. Os Estados Unidos são os desenvolvedores e operadores do sistema, cuja gestão é feita pela Marinha americana.

Até agora, a possibilidade não passa de especulação. Mas, se os EUA de fato desligarem o GPS no país, não seriam apenas os motoristas que ficariam perdidos. Setores da economia do Brasil entrariam em colapso e perderiam bilhões de dólares — e isso teria reflexos internacionais.

Tecnicamente é possível; na prática, nem tanto 

O GPS (sigla para Global Positioning System, ou “Sistema de Posicionamento Global”) funciona nos celulares, carros e aparelhos por meio de sinais que são transmitidos por satélites. O sistema não tem como delimitar com precisão até aonde iria o bloqueio desses sinais. A suspensão provavelmente atingiria países vizinhos.

Jorge Ferreira dos Santos Filho, professor do curso de Administração da ESPM, explica que, tecnicamente seria possível os EUA desligarem o GPS no Brasil, mas não é tão simples: 

“Não é só apertar um botão. Existe a capacidade tecnológica, mas, de acordo com o mercado, demandaria um enorme esforço. E a possibilidade de transbordo para o Mercosul é grande”, diz ele, referindo-se ao impacto nos países vizinhos.

O estrago seria econômico, político, militar e internacional. Isso porque o GPS é usado tanto em atividades cotidianas, como pedir carro por aplicativo ou a entrega de comida, quanto em atividades industriais, na exploração de petróleo e na logística de transportes de carga.

Na agricultura, o sistema é usado para mapear lavouras e aplicar fertilizantes e pesticidas.

Na área militar, o GPS também é essencial para orientação de mísseis, a navegação de tropas e a definição de rotas para veículos de reconhecimento e inteligência.

“Do civil ao militar, somos totalmente dependentes do GPS”, diz Luca Belli, professor de Direito e coordenador do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Rio. 

As implicações de uma eventual interrupção também podem causar um colapso nas telecomunicações e no sistema bancário brasileiro, o que afetaria a economia americana e, por sua vez, o sistema financeiro global.  

Efeito cascata e mundial 

A economia geral seria impactada com uma possível desativação do GPS no Brasil porque o país é um ator importante do comércio global.“Se o sinal aqui de GPS para aqui, não bagunça só sistema local. Isso exigiria um esforço enorme para remanejar voos, embarcações que passam por aqui”, diz Santos. 

Além disso, há um grande interesse econômico nessa disputa, inclusive por empresas próximas a Trump que usam GPS e têm negócios no Brasil.  

“As empresas fariam pressão. Seria um contrassenso Trump atacar um sistema que as empresas que ele defende como pilares da economia usam. Cerca de 95% da telefonia, IOS ou Android, utiliza GPS”, explica Santos.

Belli, da FGV, corrobora que tecnicamente é possível os EUA desligarem o GPS no Brasil, mas diz que é uma decisão de baixa probabilidade. 

“Na prática, é difícil porque tem muitas empresas americanas que dependem do GPS e têm interesse econômico relevante no Brasil. Elas fariam pressão e não deixariam isso acontecer, porque o Brasil é um mercado importante para estas companhias”, diz Belli. 

Além disso, Santos, pontua que as consequências de uma medida desta são tão graves que, para além da economia, escalam para a esfera da segurança nacional: “A segurança pública brasileira depende do GPS. As implicações tomam uma proporção que passam a ser uma discussão diplomática”, diz.

EUA nunca usaram GPS como arma 

Segundo Belli, os EUA nunca usaram o GPS como arma diplomática, embora “o governo Trump também esteja vivenciando decisões inéditas e que eram remotas”.

De toda forma, o domínio do sistema de geolocalização norte-americano levou a China e Rússia a criarem alternativas para não ficarem vulneráveis aos EUA. 

Na Guerra do Golfo, a China se sentiu em desvantagem ao usar o GPS americano e criou o BeiDou. A Rússia desenvolveu o Glonass e a União Europeia, o Galileo. Estes são sistemas que podem ser acessados por qualquer país.  

Existem ainda outros sistemas alternativos de navegação, como NavIC, na Índia, e QZSS, no Japão, porém estes operam apenas de forma regional.

Belli critica a dependência do Brasil ao GPS americano — ou de qualquer outro. Para ele, o governo brasileiro deveria ter mais autonomia e considerar outras opções, mesmo que não seja um sistema nacional. 

“É importante ter opções e não uma dependência total, porque o país do qual você é dependente pode definir as opções e sua única saída é aceitar”, diz ele.  

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Cuiaba - MT / 27 de julho de 2025 - 15:24

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