O salão nobre do STF está todo decorado para a festa de aniversário do Inquérito do Fim do Mundo, que deve chegar a qualquer momento. O menino está fazendo seis aninhos. Como passa rápido, né? O tema da festa foi escolhido pelo aniversariante: A Patrulha Canina e a Defesa da Democracia.
Em vez da imagem de Ryder, Marshall, Rubble, Chase, Rocky, Zuma, Skye, Everest, Tracker, Tuck, Ella e Rex, porém, os balões da festa trazem apenas os burocráticos números 4781. Sem graça, eu sei, mas foi para mostrar que pesquisei. Mas agora vamos nos esconder que o fedelho está para chegar.
(…)
SURPRESA!!!!
— SURPRESA!!!!!!! — gritam os ministros do STF para o Inquérito do Fim do Mundo. Mas pode chamar de Quequé ou de Finzinho. A criança, mantida em sigilo esse tempo todo, chega de mãos dadas com o ex-ministro Marco Aurélio Melo. Papai Toffoli está com os olhos marejados. O dindo Alexandre não esconde o orgulho do afilhado.
— Como tá grande! Já é um mocinho! — comenta Cármen Lúcia excepcionalissimamente.
— Esse vai ser o terror da massa ignara — responde Barroso, todo paramentado com um chapeuzinho cônico e uma língua de sogra no canto da boca.
À medida que Quequé avança pelo salão, os ministros se esforçam para não notar as muletas ideológicas da criança. É que ela é constitucionalmente deficiente, tadinha.
Quem mordeu o bolo?
— Vem cá com o titio Gilmar, vem — diz o ministro, abrindo os braços. — Tenho um presente especial para você.
— Calma, Gilmar. Pra que a pressa? Não é hora dos presentes ainda — diz o papai Toffoli. — De acordo com o regimento do STF, ipso facto, ad hoc e mutatis mutandis, primeiro temos que cantar o “Parabéns”.
Os ministros todos se organizam atrás da mesa. O bolo…
— Quem foi que mordeu o bolo?
Todos olham para Flávio Dino. Que, com a boca manchada de verde, amarelo e chocolate, jura:
— Não fui eu, não!
Então tá.
Mau agouro
No centro da mesa, o bolo reproduz a bandeira do Brasil, com os dizeres “Recivilização & Protagonismo”. Apesar de Quequé estar completando apenas seis anos, há onze velas pretas sobre o bolo. Mau agouro? Bota mau agouro nisso! Sobre a mesa, há pratos cheios daqueles canudinhos crocantes recheados com maionese de lagosta e balinhas de coco envoltas naquele papel crepom cheio de franjinhas da nossa época. Lembra?
— Pronto? Já descreveu a mesa? Podemos cantar o “Parabéns”? — me pergunta um faminto Flávio Dino surrupiando um brigadeiro.
Claro!
Parabéns pro Quequé!
🎶 Parabéns para mim
Nessa data sem fim,
Quem critica demais,
De calar tô afim…
Censurando aqui,
Bloqueando acolá,
Se falar o que pensa,
Vou te investigar! 🎶
De novo!
🎶 Parabéns para mim
Nessa data querida,
Se você discordar,
Vai ter conta banida!
Investigam sem freio,
Censuram na mão,
Se falar muito alto,
Vai ter complicação🎶
E agora o pique:
🎶 É inquérito, é inquérito,
É censura, é ban!
Rá Tim Bum
Inquerinho, Inquerinho, Inquerinho!🎶
A hora dos presentes
Chegou a hora dos presentes. Gilmar Mendes tira do bolso duas passagens para o próximo convescote em Portugal. Lá isso é presente pra criança, Gilmar? Quequé, mimado e mal-educado que só ele, faz cara de que não gostou. Criança é cruelmente sincera às vezes.
Cármen Lúcia presenteia o piá birrento com um disco do Caetano.
— Mas eu gosto do Oruam! — diz o decepcionado Quequé.
Dino lhe dá um boneco da Peppa Pig e nesse momento todo mundo fica à espera de que surja no texto uma referência à toa a certa ex-deputada. Mas não. Hoje não.
A Dino seguem-se Fux (uma guitarra), Fachin (um revólver de espoleta – vai entender!), Zanin (um par de algeminhas com a estrela do PT) e Nunes Marques (um bilhete escrito “O que é que eu tô fazendo aqui?”). Em sinal de protesto corajoso, André Mendonça não dá nenhum presente ao pirralho autoritário.
Que nem o dindo!
Barroso presenteia o petiz com uma minitoga cheia de lantejoulas, e explica:
— É do nosso herói do Supremo. O defensor da honra dos ministros, o protetor da censura do bem, o salvador da democracia e o paladino da recivilização: o Superjuiz, que também é vítima, polícia, investigador, promotor, testemunha e carcereiro.
— Que nem o dindo! — entusiasma-se Quequé, vestindo a fantasia.
Nisso Alexandre de Moraes se aproxima teatralmente, com direito a toga esvoaçante e tudo, se abaixa, olha para o fotógrafo (click!) e, cheio de cerimônia, como convém, dá ao afilhado o presente que ele mais queria neste dia feliz: uma lista com os nomes de todas dessas pessoas más, que abusam da liberdade de expressão e, fazendo rir, atentam cotidianamente contra as instituições.
(Incluindo o Popov por causa deste texto).