Nos 12 meses terminados em junho deste ano, o volume de chuvas no território brasileiro ficou em torno de 850 milímetros, segundo dados do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). É a pior leitura em 45 anos, muito abaixo da média de cerca de 1.400 mm observada entre 1980 e 2010.
Não é só o Brasil que está secando: relatório recente da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) apontou que, desde 2015, cerca de 25% e 30% da superfície terrestre mundial foi afetada por secas —percentual que é praticamente o dobro dos 15% observados nas décadas anteriores. No começo do século passado, esse percentual era ainda mais baixo, perto dos 10%.
O relatório da OCDE indica que esse processo não tem ocorrido de forma homogênea entre os países: a figura 2.3 na página 19 do estudo indica que o Brasil foi seguramente o país que mais “secou” nas últimas duas décadas, tanto em termos de frequência das secas como de intensidade delas.
A forma como as secas impactam a economia depende de quão dependente um país é dos serviços ecossistêmicos associados às chuvas. Como já apontei aqui algumas vezes, o Brasil é extremamente vulnerável a secas. Cerca de 55% da geração de eletricidade em nosso país vem das hidrelétricas —percentual que já foi de 90% há 25 anos, mas que ainda está muito acima da média mundial, de cerca de 14%. O PIB (Produto Interno Bruto) do agronegócio responde por aproximadamente 25% do PIB brasileiro— e um percentual ainda relativamente modesto das nossas lavouras é irrigada.
É verdade que nossa economia vem se adaptando gradativamente à menor disponibilidade de chuvas: com o volume de precipitações observado neste ano de 2025, certamente teríamos que implementar racionamentos de energia em 2005, 2010, 2015 e mesmo em 2021. O aumento da geração fotovoltaica e eólica, que somadas já respondem por mais de 20% da produção, tem gerado uma diversificação de nossa matriz elétrica. Esse movimento tem ocorrido tanto por conta de políticas públicas como por forças de mercado (o custo da eletricidade gerada pelas renováveis hoje é mais baixo do que aquele das hidrelétricas, termelétricas e nucleares).
Mas ainda somos extremamente vulneráveis, algo que demanda mais medidas de adaptação (incluindo sistemas de armazenagem para contornar a intermitência das renováveis e estímulo a um aumento das lavouras irrigadas) bem como ações de mitigação (isto é, que atuem para interromper ou mesmo reverter essa estiagem crônica).
A principal medida de mitigação para esse fenômeno envolve reduzir, zerar e mesmo restaurar ou regenerar a cobertura vegetal na região da floresta amazônica e do cerrado —algo que ainda teria como efeito colateral positivo reduzir as emissões de gases de efeito estufa, contribuindo para amenizar as várias outras mudanças climáticas globais (aquecimento das temperaturas, aumento do nível dos oceanos, elevação da frequência dos eventos climáticos extremos, dentre outros).
Os leitores que acompanham minhas colunas aqui na Folha e mesmo meu trabalho podem achar que tudo o que eu disse nos parágrafos anteriores soa meio repetitivo. E é isso mesmo: eu venho há alguns anos insistindo nesse mesmo assunto, já que, dentre meus colegas economistas e mesmo para uma parcela relevante da sociedade, os efeitos econômicos e sociais das mudanças climáticas seguem sendo menosprezados ou mesmo ignorados.
É nesse contexto que deve ser louvada a iniciativa do Instituto Clima e Sociedade (iCS), que lançará no próximo dia 08 de julho o Hub de Economia & Clima. Esse novo hub buscará promover pesquisas que integrem economia e meio ambiente e clima, gerando conhecimento relevante tanto para o setor público como para o setor privado.
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