Anúncio

Cuiaba - MT / 3 de julho de 2025 - 18:42

Manifestação de domingo foi o velório do bolsonarismo?

É uma pena que, entre apoiadores e detratores, a maioria das pessoas se atenha ao tamanho, à quantidade de gente na rua (no caso, avenida), para avaliar uma manifestação como a que ocorreu no domingo (29), em São Paulo. Fala-se em 12 mil pessoas. Talvez tenha sido mais ou até bem mais. Mas não vou entrar nessa questão. Porque, a esta altura do campeonato, com gente chamando a manifestação de velório do bolsonarismo, isso não importa.

O que importa é que a manifestação mostrou alguns aspectos interessantes do bolsonarismo. Alguns são positivos, como a lealdade e a esperança. Se você parar para pensar, a própria sobrevivência do bolsonarismo é interessante. Outros aspectos, contudo, são negativos, como a instrumentalização dessa lealdade e esperança, a ausência de uma estratégia e pauta claras, e o inegável cansaço que, demorou, mas parece que finalmente tomou conta do bolsonarismo.

Instrumentalização da esperança

Sobre a instrumentalização da esperança, isso é o que mais me incomoda. Me dá nos nervos. Me embrulha o estômago. Mais até do que a instrumentalização da indignação. E aqui vai um exemplo simples disso: logo depois do discurso do pastor Silas Malafaia, o deputado estadual Gil Diniz publicou no Twitter que “Malafaia ACABOU com Moraes na manifestação da avenida Paulista!”. Sério, Gil? Nem o mais otimista dos bolsonaristas acredita nisso!

Não ACABOU nem acabou. Aliás, te garanto: o que quer que Silas Malafaia tenha dito não fez nem cócegas em Alexandre de Moraes. Essa, digamos, inutilidade da manifestação da vontade popular e da retórica é o que explica seu fracasso, um fracasso que vai muito além da quantidade de pessoas na Avenida Paulista. É um fracasso de repercussão e de consequência, e seria assim mesmo que Bolsonaro tivesse conseguido colocar 10 milhões de pessoas na rua.

Dilema

A manifestação do último domingo também expôs um dilema que o bolsonarismo mais cedo ou mais tarde terá de enfrentar, e que tem a ver com o objetivo final de toda essa articulação, esse esforço para mostrar força, essa luta, essa briga, essa troca de xingamentos e acusações, essas pessoas presas, esses mortos, etc.

A questão é: para que as pessoas ainda se vestem de verde e amarelo e se dispõem a sair de casa num domingo? Ou, se não saem de casa, por que elas ficam diante do computador acompanhando o falatório das lideranças de direita? Por certo não é para ouvir deputado falar em “make Brazil great again”. Again quando, cara-pálida? E aqui as possibilidades são duas. Uma nobre e outra nem tanto.

Motivações

A motivação nobre, na qual muitos acreditam e elas têm todo o direito de acreditar, é o resgate da Justiça e da verdadeira democracia. Dos valores tradicionais. É o fim da tirania do STF. Como disse, há quem acredite que é isso o que move o ex-presidente Jair Bolsonaro e seu entorno. A luta, portanto, seria por um objetivo civilizacional, digamos assim. Mas…

Mas há também a motivação prosaica de devolver o poder da caneta a Jair Bolsonaro… para Jair Bolsonaro fazer mais ou menos o que fizeram os presidentes antes dele. Uma reformazinha aqui outra ali, uma mudança ministerial, meia dúzia de leis que podem ou não “pegar”, etc. Nesse caso, será que ainda vale a pena botar o bloco na rua? Essa é a crise existencial por que passa o bolsonarismo. E é bom que passe por ela. Nem que seja para refletir, corrigir a rota, desenvolver estratégias – e amadurecer.

Facebook
Twitter
WhatsApp
Telegram
Anúncio

Cuiaba - MT / 3 de julho de 2025 - 18:42

LEIA MAIS