Em mais uma jogada de mestre no complexo xadrez da geopolítica, Lula anunciou hoje a contratação do economista e negociador americano Michael Scott para conduzir as delicadas conversas sobre tarifas e sanções com o presidente dos EUA, Donald Trump. A indicação teria partido da primeira-dama Janja, que viu na série “The Office” um retrato fiel, realista e inspirador da capacidade de liderança, negociação e gestão de Michael Scott.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que a nomeação do estadunidense representa “um passo decisivo para a reativação proativa da centralidade brasileira no diálogo internacional” — o que quer que isso signifique. Para ele, o mais importante é neutralizar as ações do deputado Eduardo Bolsonaro. Haddad comparou a chegada de Scott a “um capitão conduzindo o Titanic com serenidade”, destacando que o americano traz “soft skills” raramente observadas na diplomacia brasileira, como imitações, mágicas e seu indefectível “that’s what she said”.
That’s what she said
Michael Scott, para quem não conhece, é um ícone do mundo corporativo norte-americano. Nem tanto por sua gestão à frente da Dunder Mifflin, uma gigante do setor de papelaria, e mais por sua coleção impressionante de prêmios Dundies. Além disso, Scott é autor do best-seller “Somehow I Manage” [traduzido no Brasil como “Eu Dou um Jeito” e em Portugal como “De Alguma Forma Eu Administro”]. A obra, que vendeu mais do que “A Arte da Negociação”, do Trump, revela a receita daquele que um dia já foi considerado O Melhor Chefe do Mundo.
Num dos capítulos do livro, por exemplo, Michael Scott fala de sua famosa “Estratégia do Diálogo Humano-Primeiro”, uma “estratégia multivetorial de engajamento internacional, com foco na humanização das tensões, yadda, yadda, yadda”. Trata-se de um protocolo de negociações que combina ignorância, vergonha-alheia e uma carência emocional absurda para destravar negociações aparentemente impossíveis, como essa do tarifaço.
Entenda como isso é bom
Com a contratação de Michael Scott, o governo Lula troca a Diplomacia de Mesa de Bar pela Diplomacia Feita Ali Naquele Canto Onde Fica o Galão de Água e o Cafezinho. O nome do negociador estrangeiro também foi bem recebido nos bastidores do STF. Para Gilmar Mendes, a iniciativa “tem baixo risco político, dado que qualquer fracasso pode ser atribuído ao fator exótico do método”. Procurado pela reportagem, Michael Scott disse estar transbordando confiança. “Trump é um negociador duro, mas que depois de um tempo amolece – that’s what she said”, disse, caindo na gargalhada.
De acordo com Gleisi Hoffmann, a escolha de Michael Scott é “um gesto ousado e inovador, capaz de abrir novas portas na relação com Washington”. Entre a oposição, a notícia foi recebida com desconfiança. “Michael Scott é um agente globalista financiado por George Soros”, esbravejou o deputado Gustavo Gayer na tribuna. Já a imprensa puxa-saco está otimista. “A indicação de um profissional com essas credenciais reflete uma ousadia rara na diplomacia brasileira. Entenda como isso é bom”, escreveu Miriam Leitão.