O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) traz a medida oficial da inflação no Brasil, mas a coleta de preços não é realizada em todo o território pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O levantamento ocorre em 16 áreas, compostas por capitais ou regiões metropolitanas, incluindo os locais mais populosos, como São Paulo e Rio de Janeiro.
Ampliar o número de metrópoles pesquisadas não é considerada uma tarefa simples. O processo exigiria a garantia de recursos financeiros e a instalação de equipes do IBGE com dedicação total à coleta dos preços.
O órgão, porém, tem convivido com restrições orçamentárias e perda de servidores efetivos nos últimos anos –o Censo Demográfico 2022, por exemplo, atrasou em meio a esse contexto no instituto.
“O processo para a incorporação de uma nova área no índice de preços requer o estabelecimento de uma equipe exclusiva de coleta, treinamento, realização de pesquisas de local de compra e de especificação de produtos e serviços, além de uma pesquisa piloto”, diz o gerente do IPCA, Fernando Gonçalves, em nota.
“Há a necessidade de avaliar a alocação de recursos financeiros e de pessoal”, acrescenta o técnico do IBGE.
A lista de 16 áreas com coleta do IPCA é composta por dez regiões metropolitanas. São os casos de Belém, Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Vitória, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.
A relação ainda inclui Brasília e outros cinco municípios. Todos são capitais: Aracaju, Campo Grande, Goiânia, Rio Branco e São Luís.
“O IPCA é uma pesquisa que vai a campo: tem gente levantando dados de preços praticamente todos os dias”, afirma a economista Wasmália Bivar, que foi presidente do IBGE de 2011 a 2016.
“Para isso, não é só treinar uma equipe. É preciso que ela exista e que tenha um movimento contínuo. A equipe não poderá ser compartilhada com outras pesquisas”, completa.
A região metropolitana do Rio de Janeiro foi, em janeiro de 1979, o primeiro local a ser incorporado ao SNIPC (Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor), que produz o IPCA.
Depois, foi a vez de Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife, em junho de 1979; de São Paulo, Brasília e Belém, em janeiro de 1980; de Fortaleza, Salvador e Curitiba, em outubro de 1980; de Goiânia, em janeiro de 1991; de Vitória e Campo Grande, em janeiro de 2014; e de Rio Branco, São Luís e Aracaju, em maio de 2018.
Conforme Wasmália, a análise sobre a inflação no Brasil não é prejudicada de maneira significativa pelo fato de o IPCA não contemplar todas as 27 capitais. O efeito disso seria irrisório, já que a coleta cobre a maior parte delas, incluindo as áreas mais populosas, aponta a ex-presidente do IBGE.
A situação, porém, afeta o acompanhamento dos preços a nível local nas cidades sem a pesquisa, avalia a economista. Em Manaus, por exemplo, não há coleta do IPCA, e usar as informações do índice de Belém, também na região Norte, não refletiria exatamente a mesma realidade de consumo, diz Wasmália, que nasceu na capital do Amazonas.
“Para os governos locais, [não ter o IPCA] é uma limitação”, afirma.
O índice oficial mede a inflação para famílias com renda de 1 a 40 salários mínimos. No total das áreas pesquisadas, o IPCA apura os preços de 377 subitens, como são chamados os bens e serviços.
O IBGE define a composição da cesta a partir da POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), que aponta o que as famílias consomem e o peso de cada gasto no orçamento.
Em locais sem a coleta do IPCA, pode haver o uso de indicadores alternativos para o acompanhamento da inflação. É o caso de Florianópolis, onde a Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina) divulga o ICV (Índice de Custo de Vida).
Como o ICV tem basicamente a mesma metodologia do IPCA, os dados são comparáveis, de acordo com a instituição estadual. O índice de Florianópolis registra a variação dos preços de 297 produtos e serviços consumidos por famílias com renda de 1 a 40 salários mínimos.
Além de Florianópolis e Manaus, a lista de 11 capitais sem IPCA abrange ainda Boa Vista, Cuiabá, João Pessoa, Macapá, Maceió, Natal, Palmas, Porto Velho e Teresina.
Folha Mercado
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Cada consumidor pode ter uma sensação de inflação maior ou menor do que o índice oficial do país.
Essa diferença está associada ao fato de que o IPCA mede a variação dos preços de uma ampla cesta de produtos e serviços, que podem estar presentes em maior ou menor escala na rotina de cada brasileiro.
“Sua cesta de compras, ou seja, os produtos e serviços que você consome regularmente, pode ser bem diferente da cesta média da população brasileira. Com isso, o seu índice pessoal de inflação pode ser maior ou menor do que o IPCA”, afirma o IBGE.
“Por exemplo, uma família que não consome carne vermelha e não tem filhos em idade escolar terá, com certeza, um índice de inflação pessoal diferente do oficial, cujo cálculo coloca peso considerável na variação do preço da carne e da mensalidade escolar”, acrescenta o instituto.