A Califórnia há muito se orgulha de ser um símbolo de governança progressista — um suposto farol de tolerância, oportunidade e inclusão. Mas, por trás do brilho dos sonhos de Hollywood e da inovação do Vale do Silício, esconde-se uma realidade preocupante: uma crise autoinfligida, fruto de políticas que desafiam tanto a lógica econômica quanto o bom senso. Diante do aumento migratório sem precedentes, da explosão da população em situação de rua e do êxodo de moradores e empresas, surge uma pergunta inevitável: o governo federal dos Estados Unidos deveria intervir?
A resposta é, de forma inequívoca, não. Na verdade, o governo federal — especialmente sob a liderança do ex-presidente Donald Trump — deveria recuar e permitir que a Califórnia enfrente as consequências de suas próprias escolhas ideológicas.
Entre julho de 2021 e julho de 2022, cerca de 400 mil pessoas deixaram o estado. A Califórnia, que já foi um ímã para empreendedores e sonhadores, agora perde contribuintes e grandes empregadores. Empresas como Tesla, Oracle e Chevron transferiram suas sedes para estados considerados mais amigáveis aos negócios, como Texas e Flórida. Esse movimento não é coincidência — trata-se de uma resposta direta à estrutura tributária considerada excessiva, à burocracia regulatória e à crescente desordem social na Califórnia.
Apesar disso, o estado continua a reforçar as mesmas políticas que alimentam sua crise. Permanece como um “estado santuário” — expressão usada para descrever jurisdições que limitam a cooperação com as autoridades federais de imigração —, oferecendo amplas proteções e benefícios a imigrantes em situação irregular. Já foram emitidas mais de um milhão de carteiras de motorista para pessoas nessas condições, além da ampliação do acesso à saúde pública para adultos sem documentação migratória. Embora os defensores dessas medidas aleguem princípios humanitários, tais iniciativas geram custos significativos, que muitos consideram insustentáveis.
Atualmente, a população em situação de rua na Califórnia ultrapassa 187 mil pessoas — a maior dos Estados Unidos —, sendo que dois terços vivem em condições precárias, sem abrigo. Segundo reportagem do jornal Los Angeles Times publicada em janeiro, os recentes fluxos migratórios contribuem diretamente para agravar esse quadro. Escolas públicas estão sobrecarregadas, os serviços sociais enfrentam limites operacionais e as forças de segurança vivem sob pressão constante. A cada mês, a pressão sobre o orçamento estadual se intensifica.
Os recentes distúrbios relacionados à imigração em Los Angeles evidenciam ainda mais a instabilidade crescente. Quando o Departamento de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE, na sigla em inglês) prendeu mais de 100 imigrantes irregulares em operações realizadas em locais de trabalho, a cidade respondeu com protestos intensos: ruas bloqueadas, incêndios criminosos e a necessidade de mobilizar tropas da Guarda Nacional e da Marinha para restabelecer a ordem.
Líderes locais se apressaram em criticar a ação federal, acusando Trump de usar o episódio como manobra política. No entanto, a operação foi, em última instância, uma resposta a uma situação insustentável gerada pelo próprio desrespeito da Califórnia à legislação federal de imigração.
É importante compreender o que realmente está em jogo: a Califórnia adotou uma postura ideológica contrária à soberania nacional e à aplicação das leis federais. As lideranças em Sacramento (capital do estado) e Los Angeles optaram por priorizar a sinalização de virtudes políticas, relegando a segundo plano a governança pragmática. O estado se tornou um campo de testes para políticas idealizadas, porém desconectadas da realidade concreta.
Agora, com o peso dessas decisões ameaçando sufocar o estado, é previsível que aumentem os apelos por ajuda federal. Mas Trump — e qualquer liderança séria em Washington — deve resistir à tentação de intervir. Fazer isso seria premiar o fracasso e proteger lideranças locais das consequências de suas próprias ações.
A Califórnia deve enfrentar os efeitos diretos de sua forma de governar. Apenas ao vivenciar plenamente as ramificações de suas decisões, os eleitores e formuladores de políticas poderão ser levados a reconsiderar sua trajetória. Mais do que isso: permitir que o colapso do estado ocorra serve como advertência contundente ao restante do país — eis o que acontece quando se ignora a segurança nas fronteiras, se penaliza a produtividade econômica e se afasta a administração pública da realidade.
Que a Califórnia sirva de exemplo. Que revele à nação o que ocorre quando a ideologia se sobrepõe à boa governança e quando a sinalização de virtude substitui a liderança responsável. O desastre fiscal e humanitário que se avizinha não será apenas um acerto de contas para os californianos, mas também um alerta para todos os estados que ensaiam seguir o mesmo caminho.
Portanto, que a Califórnia entre em colapso. Que aprenda. E que o restante da América tome nota.
Armstrong Williams é colunista do The Daily Signal e apresentador do programa de TV “The Armstrong Williams Show”, transmitido em rede nacional nos Estados Unidos.
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©2025 The Daily Signal. Publicado com permissão. Original em inglês: Let California Collapse—and Let the Rest of America Learn