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Cuiaba - MT / 15 de agosto de 2025 - 9:34

“Body safety”: como educar os filhos sobre o valor do corpo para prevenir abusos

Falar com nossos filhos sobre o respeito pelo próprio corpo e pelo dos outros, sobre como estabelecer limites e gerenciar afetos, não é uma questão secundária. Para manter essa conversa, embora possa parecer desconfortável, não se deve esperar pela adolescência. Ela deve começar na primeira infância, com confiança e com palavras que nascem do vínculo familiar. Não se trata de ter todas as respostas, mas de estar presente, disponível, sem evitar perguntas difíceis e acompanhando com ternura e clareza.

Muitos pais admitem que nem sempre se sentem preparados para abordar essas questões com seus filhos. Frequentemente, recorrem ao silêncio ou evitam conversas que parecem complexas ou delicadas. No entanto, essas omissões não protegem. É urgente recuperar uma linguagem simples, ferramentas claras e, sobretudo, a convicção de que falar sobre afetividade e sexualidade em casa não é algo extra, mas parte essencial do cuidado diário com os filhos.

Para que essa educação seja eficaz, é necessário que se baseie em uma certa antropologia do corpo. Embora seja possível uma abordagem não religiosa, a perspectiva cristã oferece uma fundamentação profunda. São João Paulo II, em sua Teologia do Corpo, destacou que “o corpo, de fato, e somente ele, é capaz de tornar visível o que é invisível: o espiritual e o divino”. Essa afirmação coloca o corpo no centro da experiência humana, não como algo acessório, mas como uma expressão da alma e da pessoa.

Sob essa perspectiva, educar os filhos sobre o valor do corpo, como uma realidade que transcende o puramente biológico, não é uma tarefa menor, mas uma forma concreta de afirmar sua dignidade.

No entanto, muitos pais, que não receberam educação afetivo-sexual na infância — talvez por terem crescido em ambientes onde esses temas eram evitados ou tratados com desconforto —, hoje não sabem por onde começar. Nesse contexto, a ideia de Gregorio Luri, defensor de uma educação enraizada e baseada no bom senso, é particularmente inspiradora: recuperar o senso comum e a clareza na criação dos filhos. Luri enfatiza que educar não é uma tarefa técnica reservada a especialistas, mas um exercício de coerência vital, de “lucidez amorosa”.

Prevenir o abuso sexual… prevenível

Há casos de abuso sexual que não podem ser evitados apenas com uma melhor educação sobre o valor do corpo, como agressões violentas em que a vítima sofre coação física ou psicológica insuperável. No entanto, em outros casos, os abusos ocorrem em contextos de familiaridade ou confiança mal interpretada. Esses poderiam ser prevenidos por uma formação chamada body safety (segurança corporal).

O termo body safety, surgido na cultura anglófona a partir de programas de prevenção ao abuso sexual infantil iniciados nos anos 80 — especialmente na Austrália, Reino Unido e Estados Unidos —, refere-se a uma abordagem educativa que enfatiza o respeito pelo próprio corpo e o desenvolvimento de habilidades para reconhecer e comunicar situações desconfortáveis. Ela oferece diretrizes claras para ajudar as crianças a identificar o que as faz sentir mal ou inseguras diante de alguém, reconhecer adultos confiáveis e expressar seus limites de forma firme. Contudo, essas ferramentas só são eficazes se enraizadas em um clima afetivo de escuta e abertura, que deve ser cultivado, primeiramente, dentro da família.

A confiança não surge do nada. Ela é construída dia a dia, desde a infância, com pequenas conversas, respostas sem vergonha e um olhar que valida sem julgar. Essas conversas variam conforme a idade: com os mais novos, basta plantar ideias simples, como “seu corpo é seu” ou “se alguém propor um jogo que te deixe desconfortável, você pode dizer não”, ajudando-os a distinguir o que é certo ou errado. Contos, jogos simbólicos ou até bonecos podem ser úteis para encenar situações do cotidiano.

Segredos bons e ruins

Também é importante falar com naturalidade sobre segredos: explicar que alguns são positivos, como uma surpresa de aniversário, enquanto outros, que causam desconforto, devem sempre ser compartilhados com um adulto de confiança. Essa distinção simples ajuda as crianças a identificar situações que precisam relatar e a entender que não estão sozinhas diante do que não compreendem.

Com adolescentes, é importante respeitar sua visão crítica, seus silêncios e oferecer argumentos sólidos, sem reduzir a conversa a dados biológicos ou alertas. Trata-se de ver suas perguntas como uma oportunidade para fortalecer o vínculo. Não é necessário ter todas as respostas, mas estar disponível.Em um mundo saturado de telas, excesso de informações e pressa, as famílias precisam de espaços de formação serena, com fundamentos sólidos, que permitam educar os filhos com o olhar no horizonte, por meio de um acompanhamento paciente e contínuo.

©2025 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol:“Body safety”: educar en el valor del cuerpo para prevenir abusos.

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Cuiaba - MT / 15 de agosto de 2025 - 9:34

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