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Cuiaba - MT / 30 de julho de 2025 - 15:53

And the Magnitsky goes to…

Chegou o momento mais aguardado da noite. A iluminação baixa, a música (Carmina Burana!) sobe. Todos estão ansiosos. Eu mesmo já não tenho mais unha para roer. Afinal, não é todo dia que se assiste à aplicação exemplar da justiça internacional. Sim, senhoras e senhores, chegou a hora de anunciar os nomes daqueles que, por seus crimes, tiranias e ignomínias, merecem ser sancionados pela Lei Magnitsky.

Na plateia, políticos de direita, ativistas, vítimas de regimes opressores (aquela ali é a Débora?), curiosos e leitores da coluna do Polzonoff deixam de lado suas taças de espumante para aplaudir entusiasmadamente a entrada dos mestres de cerimônia: o 45º e 47º presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o Secretário de Estado Marco Rubio. Aplauda aí de casa você também!

Afinal, esta não é uma cerimônia qualquer. É o Oscar da vergonha internacional. É o troféu da infâmia geopolítica. É o carimbo histórico que distingue os tiranetes dos humanistas.

Temperinho

— Obrigado, obrigado, obrigado! — diz Trump, fazendo sinal para a plateia se sentar. O silêncio se impõe. Cruze os dedos aí, porque vai começar o espetáculo!

— Ser sancionado pela Lei Magnitsky não é para qualquer um. Você precisa ser um violador contumaz dos direitos humanos. Uma figura desprezível. Um biltre. Um sinvergüenza — diz Rubio, dando início àquele discursinho que antecede a “premiação”. Vamos logo com isso, pô! Tenho certeza que todos os leitores estão ansiosos pelo anúncio.

— Não que sejam poucos os canalhas sobre a face da Terra. Afinal, tem sempre alguém disposto a oprimir seu semelhante com a desculpinha esfarrapada de estar defendendo ou a democracia, ou a soberania nacional ou qualquer mentira do gênero. Mas para ser sancionado pela Lei Magnitsky a canalhice inerente aos autocratas tem que ter algo mais. Tem que ter um temperinho — diz Trump, levantando a bola para o coapresentador.

Piiiiiiiiiii

— Isso mesmo, Donald. Tem que ter censura. Tem que ter desprezo pela liberdade de expressão. Tem que ter crueldade. Tem que ter prisão e perseguição de oponentes políticos. Em resumo, o sujeito tem que ser muito piiiiiiiiiii mesmo. Só os mais piiiiiiiiiii são sancionados com a Lei Magnitsky.

— Que é isso, Marco?! Esta é uma coluna de família! — repreende Trump, mal contendo o riso. É tudo roteirizado, ensaiado, interpretado. Mas a gente finge espanto mesmo assim. — Vamos aos concorrentes à sanção? À morte financeira? À questionável honra de entrar para uma lista que inclui todo tipo de pulha e safardana?

— Claro, Trump. Começamos com……. Ibrahim Traoré!

A imagem do ditador africano aparece no telão. A plateia aplaude.

— Ibrahim Traoré tem feito um excelente trabalho na África, esse verdadeiro celeiro de autocratas desprezíveis. O ditador de Burkina Faso tem levado a fome, a violência e o medo para o seu país — diz Trump.

Mais aplausos.

— Mas nem só de sancionar ditador africano vive a Lei Magnitsky, Trump — diz Rubio.

Patifes, tratantes e cafajestes

— É verdade, Marco. Por isso mesmo um dos concorrentes da noite é o traficante chinês… Fu Mêi. Considerado o maior comerciante de drogas asiático desde o saudoso Xing Ling Pó, Fu Mêi é considerado também o maior responsável pela epidemia de fentanil aqui nos Estados Unidos — diz Trump. A plateia aplaude, etc. e tal. Mas não preciso ficar repetindo isso a cada candidato à sanção, né? — Agora eu quero ouvir de você, Marco. Quais os outros salafrários que temos na lista da escória?

— Ah, não podia faltar ele, o empresário egípcio Aron Bado. Este é a terceiro ano consecutivo que Aron Bado aparece entre os possíveis sancionados, graças às suas falcatruas no mercado financeiro, suas megalavanderias de dinheiro e suas operações de contrabando de armas. Será que desta vez ele leva, Trump?

— Difícil saber, Marco. A concorrência é dura. O que não falta no mundo são patifes, tratantes e cafajestes. Por falar nisso, vamos agora ao nosso último concorrente. Quem será ele? Olha ali no telão. Reconhece essa careca? Sim, é ele mesmo. O ministro do Supremo Tribunal Federal do Brasil, Alexandre de Moraes!

— Careca? Não fala assim senão ele te inclui no Inquérito do Fim do Mundo, Trump.

Trump, Rubio, a plateia, Elon Musk, eu e você rimos.

Super Bonder®

— Também conhecido como Xandão… — Rubio pronuncia Xándáo —, Moraes destruiu a democracia brasileira, rasgou a Constituição, ressuscitou a censura, impediu manifestações pacíficas, abriu inquéritos ilegais e impôs um regime de terror e medo no outrora alegre país da caipirinha, do samba e do futebol…

— …e ainda por cima quer prender o meu amigo Bolsonaro! – interrompeu Trump, furioso.

— E ainda por cima isso, Trump. Mas deixemos de papo. Aqui está o envelope. Pera aí. Só um pouquinho. Pô, parece que o envelope foi fechado com Super Bonder®. Não consigo abrir…

— Me dá aqui que eu… Pronto. Aqui está.

(…)

Rufam os tambores.
Trump tira a ficha com o nome do sancionado.
Silêncio.
Todo mundo prende a respiração.
Reticências.

Agora reticências entre parêntesis.
(…)
Anda logo!
Vai, caramba!
Por que tanta demora?
……………………………..

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Cuiaba - MT / 30 de julho de 2025 - 15:53

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