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Cuiaba - MT / 14 de agosto de 2025 - 20:10

Aluguéis milionários: Brasil passa vergonha na COP com o jeitinho brasileiro  

O Brasil está passando vergonha na sua primeira COP, em Belém, no Pará. Na ganância de ganhar dinheiro com os visitantes, moradores e hotéis jogam os preços tão para o alto que nem mesmo com o orçamento em dólar ou em euro os estrangeiros conseguem alcançar. 

Anúncios em plataformas revelam valores que passam dos R$ 2 milhões para se hospedar em casas ou hotéis na capital paraense durante a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), entre os dias 10 e 21 de novembro. A qualidade de alguns imóveis é um tema à parte. 

As boas-vindas no estilo “jeitinho brasileiro” não agradou. Os convidados perceberam o abuso e estão revoltados. O presidente da Áustria, Alexander Van der Bellen, cancelou sua participação por causa dos altos custos de viagem e hospedagem. Pelo menos outros 25 países questionaram o governo sobre os valores cobrados para estadia durante a COP30. 

A mudança de endereço inclusive já foi aventada. Os preços exorbitantes levantam preocupações e colocam em risco a legitimidade sobre o acesso e a imagem do encontro – e do Brasil (que já teve dias melhores). 

Valores chegam a mais de R$ 2 milhões 

Em eventos internacionais é comum as tarifas dobrarem ou, no máximo, triplicarem. Na capital paraense, porém, os valores estão de 10 a 15 vezes os praticados normalmente.

Os preços oscilam dependendo da região e de quanto o dono do imóvel quer ganhar. Não há regras, nem coerência. As ofertas publicadas nas plataformas mostram pacotes de preços em torno de R$ 1 milhão. Os preços foram consultados nos últimos sete dias e podem ter sofrido alteração ao longo da semana. 

Os anúncios mais altos estão na faixa dos R$ 700 e R$ 900 mil – nestes casos, geralmente, para um maior número de pessoas – mas existe também casa que passa dos R$ 2,2 milhões e apartamentos de quarto e sala por mais de R$ 1 milhão. 

É o caso de um imóvel na área de Batista Campos. Para os 11 dias, um hóspede precisa desembolsar R$ 1.346.400. Se forem três hóspedes, o preço sobe para R$ 1.683.000. O apartamento está localizado na área nobre da cidade, tem uma cama de casal e dispõe de berço. “Com ar-condicionado, os hóspedes (se) beneficiam de estacionamento privado disponível no local e acesso Wi-Fi gratuito”, diz o anúncio.

Embora um quarto e sala milionário seja incomum, não é um caso isolado. No mesmo site, há duas ofertas parecidas.  

Na “Casa para COP”, como foi nomeada, o quarto e sala de 33 metros quadrados (m²) no bairro popular Marambaia custa R$ 753.984 para um hóspede e R$ 942.480 para três.

Um detalhe importante do anúncio: por ser um alojamento novo, o valor está com 20% de desconto do preço cheio de R$ 1,1 milhão. O anfitrião oferece serviço de transfer do aeroporto, contudo, com custo adicional.  

O outro exemplo mais ” em conta”: R$ 863.995. Trata-se de um apartamento luxuoso de 187m² no bairro nobre de Nazaré.  

Hotéis também crescem o olho 

Os hotéis também não resistiram à tentação de faturar em cima dos gringos. Se hospedar por 11 noites em um hotel três estrelas, de avaliação regular pelos hóspedes anteriores, custa cerca de R$ 109 mil.  

A 23 km de Belém ainda dá tempo de conseguir uma vaga por R$ 34.650 num hotel de frente para uma rua de chão batido. Se for levar companhia, a estadia para a COP30 sobe para R$ 38.500. Pelo menos, fica em frente à praia. 

Para opções mais em conta, há motéis com pacotes de R$ 6.380. Já a “suíte deluxe” custa R$ 10.780. Com serviço de quarto e acesso Wi-Fi, esse “alojamento para não fumantes localiza-se a 3,4 km de Basílica de Nossa Senhora de Nazaré”, informa o anúncio.  

Governos revoltados 

O problema é que, além do desconforto diplomático e sentimento de ser enganado, muitas delegações não têm orçamento para bancar os valores abusivos cobrados em Belém. Algumas nações pressionaram a mudança de cidade para o evento, segundo o presidente da COP30, André Corrêa do Lago. 

“Há uma sensação de revolta, sobretudo por parte dos países em desenvolvimento, que estão dizendo que não poderão vir à COP por causa dos preços extorsivos que estão sendo cobrados”, afirmou Corrêa do Lago ao G1. 

O cancelamento do presidente Áustria, Van der Bellen, por este motivo vai além do constrangimento. Expõe o “jeitinho brasileiro” com um quê de malandro, de sempre querer se dar bem, o que piora ainda mais a imagem do Brasil e de Belém neste momento.

Alemanha, Suíça, Indonésia e China enviaram comunicações ao governo federal brasileiro desde janeiro, cobrando explicações e demonstrando insatisfação. A Suíça destacou dificuldades em justificar as despesas no Parlamento e prevê redução de representantes. 

Corrêa do Lago afirmou que não há chance de a COP30 mudar de cidade. Ou seja, se a situação não for contornada, os países mais pobres poderão ficar de fora da COP. Isso enfraquece a conferência e as discussões que serão debatidas sem a participação deles.  

“Com a ausência dos países mais pobres ficaria uma COP30 que não teria legitimidade, sem participação universal. Então, nós estamos trabalhando e procurando oferecer quartos que entrem dentro do valor que eles podem pagar”, sustenta o presidente da COP30. 

Governo tenta contornar problema  

Esta será a primeira vez que o Brasil sedia uma Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. Belém foi escolhida por sua localização na Amazônia. Mas o destino é polêmico desde o início.  

Não só pela estrutura precária em alguns pontos da cidade, mas pela briga entre ambientalistas e petroleiros para exploração de petróleo na Margem Equatorial – as águas profundas mais promissoras têm justamente o Pará como base.  

O governo lançou no início deste mês uma plataforma oficial de reservas para a COP30, com oferta de 2.700 quartos em hotéis e imóveis particulares, além de 2.500 quartos individuais para os 196 países com tarifas fixadas entre US$ 100 e US$ 600. 

O plano B inclui, ainda, usar navios de luxo como hotéis flutuantes. Neste modelo, o governo assume os riscos financeiros dessa operação. O investimento total pode chegar a R$ 263 milhões, sendo que R$ 259 milhões estão reservados como uma garantia pública para cobrir a diferença caso as cabines não sejam totalmente ocupadas.  

O que dizem as plataformas 

A Gazeta do Povo entrou em contato com as principais plataformas de aluguel de temporada e de agendamento de hotéis. Tanto o Airbnb quanto o Booking.com disseram que a política de formação de preços é definida por quem anuncia a hospedagem. Nenhum dos dois respondeu qual é o percentual que a plataforma lucra em cima de cada locação. 

Questionados se estão passando alguma orientação aos proprietários em Belém durante a COP30, o Airbnb afirmou que faz esforços adicionais de conscientização junto à comunidade local de anfitriões, incentivando práticas responsáveis e alinhadas aos objetivos do evento.  

Ainda bem que o evento é só em novembro e a novela Vale Tudo acaba um mês antes. Imagina se quem conseguiu alugar um cantinho milionário resolvesse ligar a TV e visse a abertura com a música de Cazuza na voz de Gal Costa: “Brasil, mostra tua cara. Quero ver quem paga pra gente ficar assim”. Poderiam achar que é deboche. Mas não, é só o jeitinho brasileiro.

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