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Cuiaba - MT / 16 de agosto de 2025 - 7:07

Caro leitor, segue a minuta do contrato

Pelo presente instrumento particular, de um lado, PAULO POLZONOFF JR, brasileiro, casado, RG Tal, CPF Tal, RESIDENTE à rua tal, número tal e tal, doravante denominado simplesmente “EU”; e, de outro lado, __________________________________, RG Tal, CPF Tal, RESIDENTE à rua tal, número tal e tal, doravante denominado simplesmente “VOCÊ”; têm entre si, justas e contratadas, as seguintes cláusulas e condições, que mutuamente aceitam e outorgam, a fim de regular a prestação de serviços de natureza jornalística, opinativa e literária, nos termos seguintes:

CLÁUSULA PRIMEIRA – DO OBJETO
1.1. O presente contrato tem por objeto a confecção de textos jornalísticos opinativos e/ou provocativos, doravante denominados “CRÔNICAS”, pelo EU, para fruição, consumo, reflexão e eventual e totalmente não-intencional indignação por parte de VOCÊ.
1.2. Fica estabelecido que a CRÔNICA girará em torno de assuntos de interesse imediato de VOCÊ, especialmente “Alexandre de Moraes” e afins, mas sem se limitar a isso. Como agora, por exemplo.

CLÁUSULA SEGUNDA – DAS EXPECTATIVAS DE VOCÊ
2.1. VOCÊ declara, para todos os fins, que:
a) espera encontrar nas CRÔNICAS a reprodução fiel das suas próprias opiniões, crenças e expectativas em relação a EU;
b) deseja ver confirmadas suas certezas políticas, sociais e culturais e reforçados seus sentimentos mais inflamados em relação a essa zona toda, doravante denominado simplesmente “TEMPOS SOMBRIOS” em que vivemos;
c) reserva-se o direito de, caso haja qualquer discordância mínima, acusar EU de ser um comunista infiltrado, um idiota incorrigível, um isentão tucano ou todos os anteriores.
2.2. VOCÊ reconhece que reflexão excessiva, autocrítica, humor (autodepreciativo ou não) e criatividade não fazem parte do escopo desejado. Escreve apenas o que eu quero ler e não inventa moda, homem!

CLÁUSULA TERCEIRA – DAS EXPECTATIVAS DE EU
3.1. EU declara que:
a) deseja provocar, confundir, tirar VOCÊ da zona de conforto e, quando possível, levá-lo a pensar assim, à toa, em vagalumes e coisas tipo assim nada a ver;
b) reconhece, no entanto, que provocações explícitas poderão resultar em xingamentos, descurtidas, ameaças de cancelamento de assinatura da Gazeta do Povo e até cartas para a direção do jornal, pedindo a demissão de EU;
c) sabe que VOCÊ está ferido de morte em seu orgulho e, pois, suscetível a quaisquer críticas, por mais bem-intencionadas que elas sejam, e assim dado a considerar qualquer discordância, por menor e mais pontual que ela seja, uma baita traição;
d) leva sempre em conta o ânimo geral de VOCÊ e por isso evita irritá-lo e decepcioná-lo, mas é humano e por isso fracassa miseravelmente às vezes. (Às vezes?)

CLÁUSULA QUARTA – DA ENTREGA DO PRODUTO
4.1. A cada semana, EU entregará ao VOCÊ no mínimo 3 (três) CRÔNICAS que:
a) tragam, logo nos primeiros parágrafos, palavras-chave de alto apelo emocional (ex.: “censura”, “liberdade”, “Supremo”, “autoritarismo”, etc.), para VOCÊ saber que não está sozinho – e não está mesmo;
b) de alguma forma cumpram com o papel de registrar os TEMPOS SOMBRIOS em que vivemos, embora possa haver, aqui e ali, discordâncias pontuais, pelas quais EU peço antecipadamente desculpas;
c) sejam escritas na melhor linguagem literária possível, exceto em dias de pouca inspiração;
d) contenham algo mais do que os lugares-comuns e os clichês que você encontra por aí, de graça, nas redes sociais ou na concorrência.

CLÁUSULA QUINTA – DAS OBRIGAÇÕES RECÍPROCAS
5.1. Obrigações de EU:
a) escrever de modo a manter VOCÊ entretido, tentando sempre encontrar um ângulo mais leve sobre tudo o que envolva estes nossos TEMPOS SOMBRIOS;
b) não retrucar xingamentos, ameaças de cancelamento da assinatura e clamores para que EU seja demitido. Afinal, é a vida;
c) ficar feliz sempre que VOCÊ entender, totalmente ou na parcialidade, a proposta de certa CRÔNICA, por mais doida que ela seja e às vezes EU sei que é.
5.2. Obrigações de VOCÊ:
a) ler a CRÔNICA até o fim. É, não vale ficar só no título, não;
b) partir sempre do pressuposto de que EU não sou seu inimigo ou adversário, tampouco tenho quaisquer interesses escusos no que quer que EU escreva;
c) rir, rir muito, rir dos outros e de si mesmo, principalmente de si mesmo;
d) aceitar que, ao assinar este contrato, está assumindo o risco de, de vez em quando, bem raramente mesmo, e ainda que a contragosto, ver sua visão particular de mundo confrontada. Não se preocupe. Essa nossa relação não é uma disputa, e sim um diálogo.

CLÁUSULA SEXTA – DAS PENALIDADES
6.1. Caso EU falhe em validar suficientemente a opinião de VOCÊ, este poderá emitir comentários agressivos em redes sociais, ameaçar cancelar a assinatura da Gazeta do Povo e até questionar minha de fato questionável inteligência, bem como minha honestidade intelectual e lealdade a determinado grupo político. Fazer o quê?
6.2. Caso VOCÊ se recuse a considerar as provocações e reflexões sugeridas nas CRÔNICAS, bem como a desprezar aquilo que EU escrevi com tanto esmero & carinho, ficará estabelecido que EU poderei, em troca, continuar acreditando que VOCÊ é vocacionado para a excelência, inclusive enquanto leitor. Sério mesmo!]

CLÁUSULA SÉTIMA – DO FORO
7.1. As partes elegem o foro íntimo de suas consciências para dirimir quaisquer dúvidas oriundas deste contrato, com renúncia expressa a qualquer outra jurisdição, real ou imaginária.

E, por estarem assim justos e contratados, firmam o presente instrumento, que vigorará enquanto EU conseguir escrever e VOCÊ conseguir ler, lembrando que a provocação é cláusula pétrea, e a necessidade de validação, ainda que compreensível, é sempre negociável.

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Cuiaba - MT / 16 de agosto de 2025 - 7:07

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