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Cuiaba - MT / 15 de agosto de 2025 - 7:06

Contra o mal invisível: as batalhas reais de um exorcista do Vaticano

Designado pelo Papa Francisco para atuar como Missionário da Misericórdia, com autoridade especial para representar a Igreja em qualquer parte do mundo, o padre Carlos Martins é hoje um dos exorcistas mais requisitados do Vaticano.

Ao longo de sua trajetória, ele testemunhou levitação, vozes sobre-humanas, violência paranormal e manifestações demoníacas que rivalizam com os piores filmes de terror — com a diferença de que, no seu caso, não se trata de ficção.

No livro “Exorcista: Os Arquivos Secretos” (editora Citadel), o sacerdote compartilha os casos mais impressionantes que enfrentou, muitos deles revelados em seu podcast de sucesso, The Exorcist Files (considerado um fenômeno do segmento religioso, com mais de 4 milhões de reproduções desde 2023).

A seguir, reproduzimos um trecho da obra em que Martins questiona o ceticismo moderno em relação ao mal, defende a compatibilidade entre ciência e exorcismo e explica como a Igreja distingue doenças mentais de opressões demoníacas.

Vivemos em uma era de contradições. Embora praticamente todas as culturas humanas tenham histórias de demônios e possessão demoníaca, muitas pessoas com “mentalidade científica” descartam a possibilidade de atividade demoníaca.

No entanto, e se uma pessoa não conseguir encontrar alívio para seus sintomas por meio da ciência médica, mas sentir uma cessação após um exorcismo? O bom raciocínio científico e a lógica não ditariam pelo menos uma possibilidade de que a causa dos sintomas fosse, de fato, demoníaca?

A racionalidade e a boa ciência exigem que a existência de demônios e suas atividades nefastas tenham seu dia no tribunal.

Aqueles que descartam a possibilidade de demônios são vítimas da armadilha demoníaca tão sucintamente colocada pelo autor francês Charles Baudelaire, que escreveu em seu famoso conto “O jogador generoso”: La plus belle des ruses du diable est de vous persuader qu’ il n’existe pas! (“O mais belo truque do diabo é convencê-lo de que ele não existe!”).

Infelizmente, muitos hoje em dia — inclusive cristãos — acreditam erroneamente que os relatos do Evangelho em que Nosso Senhor realiza exorcismos são apenas exemplos de Ele curando pessoas de uma doença médica. Como os autores dos Evangelhos não conseguiam diagnosticar doenças físicas e mentais, atribuíram à possessão demoníaca o que é simplesmente um problema médico.

Mais exorcistas do que sacerdotes

O cristianismo sempre acreditou na importância do exorcismo. Mesmo durante suas perseguições mais ferozes, a jovem Igreja estava ciente de que trazer almas para o Reino de Deus é, por seu próprio ato, uma pilhagem do reino de Satanás.

O papa Cornélio, que reinou de 251 d.C. até seu martírio, dois anos depois, deixou uma lista de colaboradores. Em sua “Carta a Fábio”, o bispo de Antioquia, o papa Cornélio indica que havia na Igreja de Roma 46 sacerdotes, sete diáconos, sete subdiáconos, 42 acólitos e 52 exorcistas.

O fato de os exorcistas serem mais numerosos do que os sacerdotes ressalta a seriedade com que a Igreja primitiva considerava a antiga serpente. Ao mesmo tempo, a Igreja entende a necessidade de distinguir doenças médicas das espirituais. Em 1583, o Sínodo Nacional de Reims decretou:

Antes que o padre faça um exorcismo, ele deve investigar diligentemente a vida do possuído, sua condição, saúde e outras circunstâncias, e deve conversar com pessoas sábias, prudentes e instruídas, já que os crédulos demais são frequentemente enganados; e melancólicos, lunáticos e pessoas enfeitiçadas frequentemente se declaram possuídos e atormentados pelo demônio; essas pessoas, no entanto, precisam mais de um médico do que de um exorcista.

Ao fazer essa distinção, a Igreja segue o exemplo do Novo Testamento, que diferencia doença de aflição demoníaca em Marcos 6:13: “Expulsaram muitos demônios e curaram muitos enfermos, ungindo-os com óleo”.

Duas outras Escrituras mostram que o Mundo Antigo também reconhecia essa distinção. Em ambos os exemplos, os escribas acusam o Senhor. Em um deles, declaram que Ele está fora de si porque deixa de comer para pregar (Marcos 3:21). No outro, dizem que Ele deve estar possuído por um demônio porque afirma ser capaz de dar a vida e retomá-la (João 10:20).

No entanto, após essa última acusação, os espectadores defendem o Senhor, dizendo que Suas palavras não são de um demônio, porque os demônios não curam a cegueira (João 10:21).

As doenças médicas e espirituais são genuínas e, portanto, qualquer exorcista competente afirmará que cada uma delas deve ser tratada pelo praticante de sua respectiva arte: o médico ou o exorcista.

Atividade demoníaca

A presença de espíritos demoníacos e doenças mentais geralmente não é uma situação de um ou outro. É possível estar sob controle demoníaco e ser mentalmente doente ao mesmo tempo. Os demônios são predadores e, como um bando de leões à caça, eles se voltam para aqueles que são mais fáceis de capturar.

Muitos doentes mentais têm cicatrizes causadas por traumas passados. Muitas vezes, eles são propensos a fazer amizade com pessoas erradas que podem levá-los a comportamentos espiritualmente perigosos e moralmente pecaminosos.

A doença mental também pode causar depressão grave, acabando com toda a esperança de que a situação melhore e colocando aqueles que lutam contra ela em risco de serem alvo de atividade demoníaca

Por sua vez, os demônios são hábeis em usar o disfarce da doença mental para esconder sua presença. Assim como um inimigo trabalha para manter sua presença em segredo, os demônios trabalham para se misturar às condições e circunstâncias de seu hospedeiro de forma discreta.

A doença mental costuma ser o disfarce perfeito porque os membros da família e a equipe médica acreditam ser ela — e não o demônio — a razão do comportamento aberrante da vítima.

Ainda assim, não há nenhuma conexão inata entre a doença mental e a opressão demoníaca. Um exorcista deve insistir que, juntamente com a oração, seja feito um exame sóbrio e adequado para confirmar se o sofrimento é ou não decorrente de opressão demoníaca.

Os exorcistas começam com a presunção de que os fenômenos comportamentais que observam provavelmente têm origem em causas naturais. Partimos do princípio de que o comportamento estranho ou de aparência demoníaca é, com toda a probabilidade, causado por alguma doença.

Empregamos os serviços da equipe médica e de especialistas em psicologia para entender e diagnosticar a origem do comportamento de um indivíduo. Portanto, afirmar que o exorcismo e a ciência estão em desacordo é, do meu ponto de vista, um absurdo.

Fenômeno da possessão

Também é justo observar aqui que a psicologia moderna reconhece o fenômeno da “possessão”. O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-5-TR), às vezes chamado de “bíblia da psicologia”, considera a possessão como um estado que carece de explicação completa e está sujeito à interpretação cultural.

Embora o DSM presuma que tais estados sejam especulativamente dissociativos ou psicóticos por natureza, e embora não observe nem mesmo o sucesso do cristianismo em libertar pessoas de estados de possessão nos últimos dois milênios, o DSM contém, no entanto, observações fascinantes e convincentes, entre as quais a seguinte:

A possessão normalmente se manifesta comportamentalmente como se um “espírito”, um ser sobrenatural ou uma pessoa externa tivesse assumido o controle, e o indivíduo fala ou age de maneira distintamente diferente. Por exemplo, o comportamento de um indivíduo pode dar a impressão de que sua identidade foi substituída por um “fantasma”.

Se a possessão “não é atribuível aos efeitos fisiológicos de uma substância, ou a outra condição médica”, então vale a pena perguntar: se a possessão não é causada por drogas ou doença, então o que a causa? Aqui temos a hesitação da ciência moderna em reconhecer a possibilidade do mal espiritual, embora não possa negar sua manifestação clínica. Nossa era é uma era de contradições

Seres espirituais

Escrevi este livro para ajudar os leitores a manter o Diabo fora de suas vidas. O Ocidente está rapidamente se descristianizando e abraçando o paganismo. Essa mudança tem implicações graves.

Os seres humanos são seres espirituais. Quando alguém não mais adere à visão cristã do mundo — ou não acredita em Deus, por exemplo —, o instinto espiritual ainda funciona.

Ele busca satisfação nas miríades de caminhos pagãos e ocultistas doentios que inundam a sociedade ocidental. Atualmente, a seção de bruxaria em muitas livrarias é maior do que a seção de cristianismo. Lojas de brinquedos e varejistas online comercializam tabuleiros Ouija para crianças.

A aceitação e o uso da pornografia explodiram, e a redefinição secular da sexualidade e da identidade de gênero, além de desestabilizar a sociedade, deixa aqueles a quem ela pretende beneficiar em uma situação ainda pior do que antes. De fato, muitos cristãos não sabem que têm um pé em dois reinos incompatíveis — o de Deus e o do inimigo.

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