Revoltas na construção de Jirau
A revolta dos trabalhadores em Porto Alegre do Norte lembra as dos operários que trabalharam na construção da hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira, em Rondônia. Em março de 2011, eles destruíram parte do canteiro de obras diante das condições a que estavam submetidos, o que incluía falta de tratamento decente aos doentes, problemas no pagamento de hora extra e o não cumprimento das promessas dos recrutadores que os trouxeram para a usina.
Um ano depois, alojamentos foram incendiados e houve nova destruição no canteiro de obras. Nem a presença de tropas da Força Nacional, chamada para reforçar o controle em meio à crescente insatisfação dos trabalhadores, e da Polícia Militar, presente desde março de 2011, foi suficiente para conter a indignação dos operários. Na época, o governo Dilma Rousseff organizou um compromisso para aperfeiçoar as condições de trabalho na indústria da construção. A permanência de situações similares, mais de uma década depois, mostra que não avançamos como seria necessário.
Vale lembrar que, em setembro de 2009, um grupo de 38 pessoas já havia sido libertado de trabalho análogo à escravidão pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de Rondônia e pelo Ministério Público do Trabalho, com apoio da Polícia Federal. As vítimas estavam trabalhando para uma construtora que prestava serviço ao consórcio responsável pela construção de Jirau. Os trabalhadores foram aliciados em Parnarama (MA) por intermediários, que prometeram bons salários.
Atraídos pela promessa, descobriram que seriam submetidos a um regime de dívidas quando chegaram ao canteiro de obras. A equipe de fiscalização encontrou os trabalhadores alojados de forma precária em um barracão de madeira, sem camas, com colchões improvisados, sem instalações elétricas e sanitárias adequadas. E superlotado.
Trabalho escravo no Brasil
A Lei Áurea aboliu a escravidão formal em maio de 1888, o que significou que o Estado brasileiro não mais reconhece que alguém seja dono de outra pessoa. Persistiram, contudo, situações que transformam pessoas em instrumentos descartáveis de trabalho, negando a elas sua liberdade e dignidade.