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Cuiaba - MT / 27 de julho de 2025 - 7:51

“Capitalismo é o melhor remédio para a pobreza”, diz sociólogo Rainer Zitelmann

O melhor caminho para um país crescer é quando as pessoas podem escolher o que comprar. Essa é a opinião do historiador e sociólogo alemão Rainer Zitelmann, ex-socialista e hoje defensor do capitalismo. Ele estuda há décadas a economia de vários países.

Zitelmann, que é doutor pela universidade de Potsdam e escreveu mais de 30 livros, argumenta que o discurso de “ricos x pobres” adotado pelo governo Lula deturpa a realidade e é perigoso. Segundo ele, a própria História mostra que incentivar estas divisões nunca levou uma nação à prosperidade. Pelo contrário, resultou em mais pobreza e miséria.

O sociólogo afirma que o conceito de soma zero, em que um só se beneficia porque o outro perde, prejudica a todos: “O capitalismo é o melhor remédio para a pobreza. Os ricos não se tornam ricos tirando algo dos pobres, mas criando benefícios para muitas pessoas como empreendedores”, diz ele em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo.

O caminho para pessoas e países enriquecerem, diz Zitelmann é entender o mercado, e não tentar criar divisões. Ele traz exemplos de empresários que construíram impérios por meio de inovações e serviços.

“A lógica do mercado recompensa aqueles que conseguem atender às necessidades de um grande número de consumidores. Fomos nós – os consumidores – que os enriquecemos”, diz ele.

Os ricos são culpados pela existência dos pobres? 

Aqueles que dão maior ênfase à redistribuição tendem frequentemente a considerar as economias nacionais ou globais como um jogo de soma zero (em que o ganho de uma pessoa seria a perda de outra).

Esta é uma atitude expressa de forma mais concisa em um poema intitulado “Alfabet”, do escritor alemão Bertolt Brecht, no qual dois homens – um rico e um pobre – se encontram e o necessitado diz: “Se eu não fosse pobre, você não seria rico.”

Essa imagem da vida econômica é popular entre os intelectuais. Segundo essa lógica, os países ricos devem compartilhar sua riqueza com as nações mais pobres, e os ricos devem ser forçados a dar parte de seu dinheiro aos pobres.

A pobreza persistente é atribuída ao egoísmo e à falta de empatia dos ricos. É verdade que, no passado, grande parte da riqueza era baseada em roubo em sociedades onde pequenas minorias enriqueciam às custas da maioria. No entanto, não é assim que o livre mercado funciona.

Como funciona a distribuição de riqueza hoje?

A lógica do mercado recompensa aqueles que conseguem atender às necessidades de um grande número de consumidores. Fomos nós – os consumidores – que os enriquecemos. Uma análise dos homens mais ricos do mundo mostra que nenhum deles enriqueceu tirando algo dos outros. Em vez disso, suas atividades empreendedoras criaram valor para toda a sociedade.

O capitalismo só funciona por meio do empreendedorismo e do fato de algumas pessoas se tornarem muito ricas. Mas elas se tornam ricas porque a economia cresce. E isso também reduz o número de pobres. Há muito mais bilionários no mundo hoje do que há 40 anos. Ao mesmo tempo, o número de pobres em todo o mundo caiu drasticamente. Isso mostra o quão absurdo é o pensamento de soma zero.

O fundador da Amazon, Jeff Bezos, fez fortuna no comércio eletrônico; Bill Gates foi pioneiro no software que todos usamos hoje; a fortuna de Warren Buffett baseia-se em investimentos em marcas altamente lucrativas, incluindo McDonald’s, Coca-Cola e várias grandes seguradoras. Esses homens construíram suas fortunas com base em boas ideias e grandes marcas que atendem às necessidades de bilhões de consumidores.

Essa batalha entre ricos e pobres já foi bem-sucedida na História?

A luta contra os ricos foi bem-sucedida: eles foram destituídos de seu poder e assassinados. Era o que havia sido prometido. Mas isso não beneficiou os pobres. No final, prejudicou toda a sociedade, não apenas os ricos.

Ao longo da história, sempre houve movimentos que prometiam aos pobres que eles estariam melhor se os ricos fossem combatidos.

Por que o discurso de ricos contra pobres é perigoso?

Há 200 anos, antes do surgimento do capitalismo, 90% da população mundial vivia em extrema pobreza. Hoje, esse número é inferior a 9%.

O capitalismo é, portanto, o melhor remédio para a pobreza. Por outro lado, 80% das pessoas que morreram de fome no século 20 pereceram na União Soviética socialista e na China socialista. Só o “Grande Salto para a Frente” de Mao matou 45 milhões de pessoas.

Sob o capitalismo, os ricos não se tornam ricos tirando algo dos pobres, mas criando benefícios para muitas pessoas como empreendedores. A luta contra os ricos e os empreendedores nunca tornou uma nação próspera na história, mas sempre levou a mais pobreza e miséria. Essa é uma lição da história.

Você pode nos dar alguns exemplos de governos que usaram este discurso?

Na Revolução Russa de Outubro de 1917, por exemplo, os bolcheviques chegaram ao poder com o mote de lutar contra os capitalistas. Mas logo eles estavam lutando não apenas contra os capitalistas, mas também contra os trabalhadores e camponeses. E, depois, até mesmo contra seus próprios camaradas.

No Camboja, na década de 1970, os comunistas primeiro lutaram contra os ricos. Mas, no final, eles mataram um quarto da população em apenas alguns anos.

Hugo Chávez também chegou ao poder na Venezuela com o slogan de lutar contra o capitalismo e expropriou muitas empresas. Mas todos sofreram como resultado. A Venezuela costumava ser o país mais rico da América do Sul. Hoje 80% da população vivem na pobreza e um terço da população fugiu do país.

Lula e Janja fazem campanha e fomentam disputa entre ricos e pobres (Foto: Ricardo Stuckert/Secom)

Houve algum exemplo de uma disputa com consequências ainda mais alarmantes?

Uganda é um exemplo particularmente marcante das consequências devastadoras da luta contra os ricos. O brutal ditador Idi Amin, que governou Uganda na década de 1970, odiava judeus e asiáticos “ricos”. No início de agosto de 1972, Idi Amin tentou a expulsão dos asiáticos.

Naquela época, havia cerca de 80 mil asiáticos vivendo em Uganda, principalmente da Índia e da época do Paquistão. O antecessor de Idi Amin, o socialista Milton Obote, já havia tomado medidas contra eles, prejudicando assim a economia.

Como tantas vezes na história, os ricos e bem-sucedidos foram transformados em corpos expiatórios e uma campanha sem precedentes de inveja social foi lançada: os asiáticos foram rotulados de exploradores cujo único objetivo era enriquecer às custas da população local.

Isso jogou Uganda em uma crise profunda. A expulsão de asiáticos exacerbou a miséria do país, pois destruiu uma parte significativa da base tributária das cidades. Na época da deportação, 90% dos negócios do país eram de propriedade de asiáticos, que geravam 90% da receita tributária de Uganda.

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No seu livro “Hitler, anticapitalista e revolucionário” o senhor diz que Adolf Hitler se apresentava como salvação dos pobres. Como ele atacava a burguesia?

Hitler chamava seu partido de Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Ele odiava o capitalismo e a burguesia e a acusava de uma posição antissocial: lucro, ganância e materialismo descarado.

Ao rejeitar demandas sociais justificadas, a burguesia havia empurrado os trabalhadores para os braços dos partidos marxistas. A consciência de classe proletária era simplesmente uma reação compreensível à presunção de classe burguesa.

A burguesia, concluiu ele, estava no fim de sua missão devido à sua covardia, fraqueza e falta de energia. Essa classe era incapaz de liderança política e precisava ser substituída por uma elite qualificada.

Hitler esperava estabelecer essa elite principalmente entre a classe trabalhadora. Para ele, os trabalhadores eram, como ele mesmo afirmou, a “fonte de força e energia”.

Portanto, ele concentrou seus esforços principalmente em obter o apoio da classe trabalhadora. De fato, muitos trabalhadores esperaram pelas promessas de Hitler, mas sabemos como tudo terminou: em assassinato em massa e guerra.

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