O dirigente chinês, Xi Jinping, encontrou-se nesta quinta-feira (24) com a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, o português António Costa, e pediu que o bloco reforce a confiança mútua com a China diante das crescentes tensões geopolíticas. Ele disse que as partes podem encontrar “espaços em comum”.
Em contrapartida, os líderes europeus cobraram mais equilíbrio nas relações comerciais e maior atuação de Pequim para pôr fim à Guerra da Ucrânia. As tratativas ocorreram na capital chinesa na cúpula para marcar os 50 anos de relações diplomáticas entre a UE e o país asiático.
O encontro, que inicialmente duraria dois dias, mas foi reduzido a apenas um a pedido da China, foi marcado por tensões e disputas comerciais. Os atritos refletem como a guerra tarifária iniciada pelos Estados Unidos que prometia aproximar chineses e europeus, acabou estimulando o oposto.
Xi criticou abertamente as medidas comerciais recentes adotadas por Bruxelas, como as tarifas sobre veículos elétricos chineses, e alertou contra o protecionismo europeu. “Melhorar a competitividade não pode depender da construção de muros e fortalezas. O desacoplamento e a ruptura de cadeias só levam ao isolamento”, afirmou o líder chinês.
Em resposta, Von der Leyen disse que a relação bilateral está em um “ponto de inflexão” e destacou a necessidade de reequilibrar o comércio entre os dois lados. A União Europeia tem um déficit comercial histórico com a China, que alcançou € 304,6 bilhões em 2024.
A presidente da Comissão Europeia também pediu maior acesso ao mercado chinês, mais previsibilidade regulatória e a flexibilização dos controles de exportação de terras raras, minérios necessários para produção industrial de automóveis a armamentos.
Nas últimas semanas, em encontros do chanceler Wang Yi com seus pares europeus, a China não cedeu às demandas, concentradas no fornecimento estável de terras-raras, mas o país já não vinha demonstrando interesse pela cúpula.
O mais provável é que Pequim espere para negociar com o novo premiê alemão, Friedrich Merz, que estaria preparando uma visita de Estado a Xi nos próximos meses, com uma delegação de empresas alemãs. O país tem priorizado a reindustrialização militar para responder à pressão americana por mais gastos no setor —e também à sua própria queda de competitividade, com a perda do acesso à energia da Rússia.
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Costa, por sua vez, aproveitou o encontro para pedir diretamente que a China use sua influência sobre Moscou. “Como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, apelamos à China para que use sua influência sobre a Rússia, para que esta respeite a Carta das Nações Unidas e ponha fim à guerra de agressão contra a Ucrânia”, declarou o presidente do Conselho Europeu.
A posição chinesa no conflito ucraniano é vista com desconfiança em Bruxelas, que acusa Pequim de manter um apoio tácito a Moscou.
Por outro lado, a cúpula produziu avanços em temas climáticos. Os dois lados divulgaram uma declaração conjunta reforçando compromissos com ações para mitigar as mudanças climáticas. Estão previstas cooperações em áreas como transição energética, controle de emissões de metano, mercados de carbono e tecnologias verdes.
Analistas, no entanto, mantêm o ceticismo. “Essa cúpula não vai mudar o curso das relações Europa-China, que estão em deterioração por razões estruturais”, disse Abigael Vasselier, do think thank alemão Merics. “A Europa precisa se preparar para um relacionamento mais difícil e talvez reavaliar sua estratégia em relação à China.”