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Cuiaba - MT / 27 de julho de 2025 - 10:25

Uso excessivo de ChatGPT prejudica conexões cerebrais, diz pesquisa do MIT

Pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachussets (MIT), uma das mais renomadas universidades dos Estados Unidos, conduziram um estudo sobre os impactos do uso da inteligência artificial sobre habilidades mentais cotidianas de estudantes, como memória, atenção e raciocínio. A conclusão foi considerada alarmante: os estudantes que mais usaram ferramentas de Inteligência Artificial, como o ChatGPT, tiveram os piores resultados.

Ao todo, a pesquisa contou com 54 participantes. Eram estudantes com idades entre 18 e 39 anos. Eles foram divididos em três grupos e tinham como tarefa escrever redações baseadas em temas propostos no SAT, um exame de admissão universitária dos Estados Unidos. Os estudantes passaram por monitoramento da atividade cerebral por eletroencefalograma em dezenas de regiões do cérebro.

O primeiro grupo escreveu as redações com a ajuda do ChatGPT, da empresa OpenAI. O segundo não contou com a inteligência artificial, mas podia usar o mecanismo de buscas do Google para escrever o texto. No terceiro grupo, as redações foram todas escritas sem qualquer ajuda tecnológica.

Os participantes que escreveram seus textos sem os auxílios digitais tiveram uma alta pontuação em critérios como criatividade, memória ativa e conexões neurais ligadas à imaginação e ao processamento da linguagem. Aqueles ajudados pelo Google apresentaram desempenho próximo ao dos anteriores nas mesmas funções cerebrais.

Já aqueles que dependeram do ChatGPT para escrever suas redações demonstraram baixos índices nas habilidades mentais medidas pela pesquisa. Para os pesquisadores, a dependência cada vez maior da inteligência artificial – muitas vezes com os estudantes apenas copiando e colando os textos gerados sem nenhuma análise – resultou em um baixo grau de envolvimento e atenção com o trabalho.

Uso massivo de IA pode prejudicar conexões cerebrais

Esses indicadores de aprendizado são mais elevados quando o cérebro “se conecta” à tarefa que está sendo executada. Em outras palavras, enquanto os textos eram escritos de forma automatizada pelos estudantes pesquisados, menor era sua compreensão direta do que estava sendo gerado pela IA, assim como sua motivação para concluir a tarefa.

“Uma das conclusões mais interessantes desse estudo é que os estudantes que priorizam o uso do ChatGPT não estão preocupados com o resultado do trabalho. Eles confiam naquilo que a máquina gera como correto, como se fosse uma verdade absoluta. E isso vai deixando essas pessoas preguiçosas”, aponta Pedro Caldeira, Pedro Caldeira, professor doutor de Educação da Universidade Federal do Triângulo Mineiro.

À Gazeta do Povo, ele citou um exemplo real de uma professora que recebeu entre os trabalhos dos estudantes textos que indicavam o nome Rubens. Mas, segundo Caldeira, não havia ninguém na turma com esse nome.

“Era algo como ‘Rubens, vou te ajudar a achar a melhor solução’. Duas coisas ficam muito claras nessa situação. A primeira é que o texto foi escrito por uma inteligência artificial. A segunda é que quem pediu para a IA escrever o texto não foi nem o aluno, possivelmente foi o pai dele. Isso é a preguiça em sua essência”, comentou.

Estudo com o ChatGPT foi feito em duas etapas

Na pesquisa do MIT, os estudantes, em um segundo momento, tiveram que reescrever alguns dos textos apresentados anteriormente. Mas nesta etapa os papeis se inverteram. Quem trabalhou sem as ajudas tecnológicas pôde usar o ChatGPT, enquanto aqueles que se valeram apenas da inteligência artificial agora se viram na obrigação de voltar aos temas anteriores sem nenhum apoio digital.

Quem havia usado o ChatGPT na etapa inicial, diz o estudo, teve dificuldades até para se lembrar dos assuntos sobre os quais haviam escrito. Para os pesquisadores, há uma relação direta entre o uso inadequado dos chamados grandes modelos de linguagem (LLM, na sigla em inglês) e os baixos índices obtidos na pesquisa.

No grupo que saiu do “modo analógico” e foi para a IA, por sua vez, houve indicativos de que a tecnologia, quando usada corretamente, pode melhorar na conectividade cerebral. Em última análise, plataformas como o ChatGPT têm potencial para reforçar o aprendizado desde que utilizadas com equilíbrio.

Pesquisa sobre o uso da IA na educação ainda precisa passar por revisão

A pesquisadora Nataliya Kosmyna, principal autora do estudo, divulgou os resultados do trabalho antes mesmo da validação científica completa – uma espécie de controle de qualidade no qual outros especialistas da mesma área verificam metodologia, resultados, conclusões e a clareza da apresentação.

A medida foi tomada porque, segundo ela, os resultados são muito preocupantes, principalmente pela possibilidade potencial de que essas ferramentas de inteligência artificial sejam adotadas sem muito critério como política pública nos anos iniciais da educação.

“Estamos começando a ver o impacto do uso de LLM na educação, e neste estudo demonstramos que há o risco provável de que isso traga uma diminuição nas habilidades de aprendizagem. Inicialmente, os dados mostram um benefício aparente. Mas apenas 4 meses depois o grupo que mais usou a IA teve um desempenho pior do que seus colegas em todos os níveis”, detalhou Kosmyna, no artigo.

Professor de Engenharia Elétrica na Universidade de York, no Reino Unido, Rodrigo de Lamare classifica o uso de LLM nos anos iniciais da educação como “um completo desastre”. Porém, à Gazeta do Povo, ele lembrou que quando os modelos de inteligência artificial são usados da forma correta os benefícios são muitos.

“Isso pode ser extremamente prejudicial porque, em vez de o estudante ter aquela experiência de aprendizado, ele obtém as respostas ou os trabalhos prontos. É um atalho gigantesco. Agora, para um profissional da área de finanças, por exemplo, uma ferramenta dessas ajuda muito na análise de regras de tributação. Ou para um advogado que precise buscar jurisprudências relacionadas a uma ação judicial”, completou.

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Cuiaba - MT / 27 de julho de 2025 - 10:25

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