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Cuiaba - MT / 27 de julho de 2025 - 1:26

“Apocalipse nos Trópicos” mostra que a esquerda ainda não entendeu os evangélicos  

No novo documentário da Netflix, Apocalipse nos Trópicos, a diretora Petra Costa tenta reescrever a história para apresentar os evangélicos como vilões. Mas o efeito acaba sendo outro: mostrar que a esquerda ainda não entendeu os cristãos.

Por meio da manipulação de discursos e imagens que favorecem sua visão, Petra quer provar que o aumento no número de evangélicos no país é uma ameaça à democracia.

Porém, ao tentar retratar os fiéis como pessoas ignorantes e extremistas, a cineasta só reforça o quanto a esquerda e os progressistas podem ser limitados em sua visão e propensos a criar sua própria versão da história.

O tema é bom; a abordagem, incompleta

Apocalipse nos Trópicos se propõe a demonstrar que o crescimento do número de evangélicos no Brasil está diretamente relacionado à ascensão de Jair Bolsonaro e, com ele, de uma onda antidemocrática. 

Nos últimos 40 anos, os evangélicos saltaram de 5% para 30% da população brasileira. Não há como negar que isso mudou o cenário político.

O documentário traz discussões relevantes e atuais, como o uso da fé, inclusive de trechos bíblicos, por pastores para chegar ao Congresso. É fato que os púlpitos das igrejas atraem pessoas que querem poder e que há líderes religiosos que articulam mais do que oram.

Apocalipse nos Trópicos mostra essa mudança e apresenta o pastor Silas Malafaia como figura central desse movimento. A obra narra desde a construção do seu império até a proximidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro, e sugere que o pastor influenciava as decisões presidenciais.

Petra mostra, ainda, como políticos se associam aos evangélicos em busca de votos, em especial retrata a eleição para presidente em 2022 e as contradições entre o que candidatos que se dizem cristãos dizem e fazem.

Contudo, o longa limita-se à história que Petra e seus parceiros progressistas querem apresentar, sem compromisso de mostrar o verdadeiro universo evangélico, o cristianismo e a História como ela é — com todas as camadas boas e ruins dos dois lados.

Malafaia: um dos vilões de Petra Costa.Malafaia: um dos vilões de Petra Costa. (Foto: Divulgação/Netflix)

A quem interessa recriar a História?

Apocalipse nos Trópicos traz análises superficiais do universo evangélico, e faz conexões confusas entre o cristianismo e comunismo. Um discurso que certamente agrada aos parceiros e fãs da diretora, mas está longe da verdade.

A lista de parceiros inclui a coprodução da empresa do ator americano Brad Pitt e a “generosa ajuda”, segundo eles, de Jennifer e Jonathan Allan Soros, nora e filho do doador mais notório da esquerda, o húngaro George Soros.

Petra teve seu último documentário Democracia em Vertigem indicado ao Oscar. O lançamento da Netflix, porém, está mais para um ensaio ou vídeo pré-campanha eleitoral do que para um registro da História. A estreia é mundial.

Conteúdo raso

O filme de quase duas horas de duração não explica o que realmente é a igreja evangélica em sua totalidade, formada por gente de fé e não só por pastores ambiciosos.

Talvez a cineasta e sua equipe não saibam, mas, assim como há pessoas que buscam a teologia da prosperidade ou poder dos púlpitos, existem as que vão às igrejas simplesmente em busca de Jesus, a essência do evangelho.

Outro ponto problemático é que o documentário mostra somente pessoas que estavam orando nas manifestações de 8 de janeiro de 2023 e, em seguida, o Congresso depredado, como se não houvesse pessoas de outras religiões no local.

A sequência de imagens passa a clara mensagem de que os evangélicos foram os responsáveis pelo “apocalipse da democracia”. É um discurso que, se não for antiético, é no mínimo irresponsável. Imagina se o alvo fossem pessoas de outra religião…

Apocalipse nos Trópicos ignora que cristão pode ser crítico

Outro aspecto que é possível ter passado batido pela extensa equipe de pesquisa e produção é que evangélicos podem ser críticos e nem todos são de direita.

A deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) e a senadora do Meio Ambiente, Marina Silva, ambas da base governista, são evangélicas e poderiam ter contribuído com o documentário.

Depois de Lula e Bolsonaro, o pastor Malafaia é quem mais aparece em Apocalipse nos Trópicos. Chamado de “estrela”, ele é colocado como figura-chave na ascensão da liderança evangélica.

Segundo Petra, Malafaia foi o precursor de uma nova classe de pastores que atraiu a classe média e mais dinheiro às igrejas. Estes líderes, por sua vez, despontaram como empresários e influenciadores, e ganharam espaço na política.

Há muitos pastores celebridades que gostam de holofotes. Esse controle, diz Petra Costa, está bastante enraizado nas condições sociais do Brasil. Como muitas pessoas estão em situação de pobreza, estes pastores vendem prosperidade e atraem este público.

Mas se a produção fuçasse um pouco mais, traria ao telespectador outras figuras nocivas do “mundo evangélico” que se apoiam nesse discurso bíblico e que hoje têm tanta relevância quanto Malafaia.

O uso político da fé é um problema real, perigoso e deve ser combatido. Mas esse não parece ser o foco do documentário.

A obra deixa a desejar também na qualidade – não só pelo conteúdo incompleto e explicitamente manipulado. A narração de Petra, que em Democracia em Vertigem deu certo, desta vez não ficou boa. É monótona e cansativa. Não acompanha o ritmo do vídeo.

Lula bonzinho e Bolsonaro vilão

A sequência de imagens deixa claro que a narrativa foi construída para embasar a história que a diretora quer recriar.

Lula, por exemplo, é retratado como o homem crente em Deus que defende o Estado laico e foi preso injustamente. O documentário sempre atrela a imagem do petista à de salvador e nunca lembra os esquemas bilionários de corrupção que PT já criou no país.

Os cristãos aparecem como pessoas que querem impor sua crença e valores no país a qualquer custo. Apocalipse nos Trópicos deixa claro que o aumento de evangélicos está relacionado ao crescimento do bolsonarismo que, por sua vez, é o câncer do país.

Bolsonaro aparece como um homem descompensado e perigoso, que orou em vez de comprar vacinas na pandemia – ele comprou.

“Em vez de comprar vacinas ou implementar medidas de saúde, a solução proposta era fazer novas promessas, novas orações para restabelecer o contrato divino entre o povo, seus governantes e Deus”, diz Petra.

A música escolhida para encerrar o documentário, “Juízo final”, de Nelson Cavaquinho e Élcio Soares, sintetiza o que Petra tenta recriar: a história do bem e do mal. Só que na política não existem mocinhos.

Lula tirou várias pessoas da pobreza, mas também estava no comando do país quando aconteceram os maiores escândalos de corrupção (inclusive no atual, com o INSS).

Bolsonaro diminuiu impostos e fomentou o empreendedorismo, mas está longe de ser um representante para todos os evangélicos no país. Há muitos cristãos que discordam do ex-presidente e não veem em suas atitudes um discípulo de Jesus.

Petra, no entanto, usa pesos e medidas diferentes para os dois. A vitória de Bolsonaro em 2018 é atribuída à cegueira dos religiosos, nunca à possibilidade dos eleitores rejeitaram o histórico de corrupção do PT, por exemplo.

Do comunismo ao apocalipse

A explicação do aumento do cristianismo também é confusa. Ainda que fizesse sentido, que não é o caso, Petra se perde em alguns momentos. Vai da crença de que os cristãos querem dominar todas as esferas de poder a um Jesus vingativo em Apocalipse.

O que talvez ela não saiba (ou não quis saber) é que a mensagem central da bíblia não é dominar o mundo, mas amar ao próximo. Para isso, não é necessário poder político, até porque a verdadeira fé não é imposta.

Apocalipse nos Trópicos diz que o pastor Billy Graham pregava a guerra contra os comunistas e que esta guerra levou as pessoas à teologia da libertação, a qual desafiava as estruturas de poder. Segundo o documentário, a consequência disso é que o “capitalismo brutal gerou uma desigualdade vertiginosa e as pessoas foram buscar fé evangélica”. Ou seja, na visão de Petra, as pessoas vão às igrejas porque são pobres ou atrás da prosperidade.

Nesta lógica, quem vota cegamente em Lula, apesar de toda a corrupção do PT, das gastanças e aumento de impostos e conchavo com o Supremo Tribunal Federal não coloca a democracia em risco?

Para quem fez um documentário que critica a influência da religião na mente das pessoas e os apresenta como lunáticos sem bom senso, Petra não faz diferente. Só que aqui é a visão dela: “puro suco” da esquerda.

Como diz o ditado (que não está nas Escrituras, apesar dos nomes bíblicos): “Quando Pedro me fala de Paulo, sei mais sobre Pedro do que de Paulo”.

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Cuiaba - MT / 27 de julho de 2025 - 1:26

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