O nacionalismo econômico voltou à moda. Em Washington, o slogan “Buy American” (“Compre produtos americanos”) tornou-se palavra de ordem, com promessas de compras governamentais exclusivas nos EUA, incentivo à produção nacional e proteção aos chamados “empregos americanos”. Essa retórica não é exclusividade de Donald Trump — ela também esteve no centro da política econômica do governo Joe Biden.
À primeira vista, tudo parece fazer sentido. Quem se oporia à criação de empregos no país, ao fortalecimento da indústria nacional e à desejada independência estratégica frente às cadeias globais de suprimentos? No entanto, slogans como “Compre produtos americanos” ocultam uma realidade incômoda: não são as grandes corporações que saem prejudicadas — os maiores penalizados são os consumidores comuns e os pequenos negócios.
“Ninguém mais quer saber de produtos com o selo ‘Made in USA’”, afirmou Pepper Harward, CEO da Oka Brands, ao portal Axios. A empresa, que atua em parceria com marcas como New Balance e Walmart, observa que o discurso nacionalista, quando inflado no mercado interno, também desperta reações negativas no exterior. Isso tem afetado as vendas internacionais de empresas americanas, que passaram a depender exclusivamente do consumo doméstico para compensar a perda de clientes em países como Canadá, Coreia do Sul e Japão.
A obrigatoriedade de terceirização e produção em território americano, em muitos setores, resulta em alternativas mais caras, menos eficientes e tecnologicamente defasadas. Diversos estudos demonstram que cada emprego mantido ou criado nos Estados Unidos por meio de subsídios e incentivos custa aos contribuintes mais do que o próprio valor do salário pago. Há um motivo pelo qual tantas indústrias transferiram sua produção para o exterior — e esse motivo raramente tem a ver com falta de patriotismo.
O exemplo da Hungria: controles de preço e monopólios estatais
Segundo o Cato Institute, centro de estudos liberal norte-americano, em alguns setores as regras de conteúdo nacional elevam o custo por emprego para mais de US$ 250 mil. O consumidor é quem paga a conta: com preços mais altos, menos variedade de produtos e uma economia menos ágil. Mas “dinamismo econômico” é um conceito difícil de vender politicamente, sobretudo quando comparado com a promessa direta de “gerar empregos”.
A Hungria oferece um exemplo instrutivo. O país promoveu a relocalização industrial e criou “campeões nacionais” nos setores agrícola e tecnológico. O resultado foi o aumento dos preços, o surgimento de monopólios, a nomeação de dirigentes políticos em grandes empresas e o crescimento do descontentamento entre os consumidores. O próprio primeiro-ministro Viktor Orbán foi obrigado a instituir controles de preços — uma tentativa de mitigar as distorções causadas pelas políticas que seu governo havia promovido.
França, Itália e EUA: casos de protecionismo disfarçado de patriotismo
Outros alertas vêm da França e da Itália. O Estado francês, guiado por motivações nacionalistas, interveio diretamente em empresas como a montadora Renault, inclusive bloqueando sua fusão com a japonesa Nissan. O efeito foi o enfraquecimento da competitividade e o aumento da ingerência política em decisões corporativas. Campanhas como “Manger Français” (“Coma Francês”) visavam promover o consumo interno, mas elevaram os preços dos alimentos e reduziram a liberdade de escolha do consumidor.
Na Itália, a proteção ao selo “Made in Italy” nas indústrias de moda e têxtil resultou em distorções de mercado, aumento de custos para os consumidores e pressão extra sobre pequenos empreendedores. Soma-se a isso o caso da Alitalia, companhia aérea nacional que foi diversas vezes socorrida com recursos públicos — um exemplo claro de como o nacionalismo econômico sacrifica eficiência em troca de conveniência política.
Por que o protecionismo pune os mais pobres
Todas essas medidas — tarifas, subsídios, restrições a importações ou exigência de produção local — acabam inflando os preços. E, como de costume, quem mais sofre são os consumidores de menor renda. Para os mais ricos, o aumento de preços é apenas um incômodo. Mas, para a maioria da população, que vive com o orçamento no limite, esses custos se traduzem em dificuldades reais. É por isso que redes de varejo com preços acessíveis, como Aldi, Lidl e Dollar General, têm se expandido nos Estados Unidos.
Alguns defensores do “Compre produtos americanos” argumentam que a política fortalece as cadeias de suprimento e aumenta a autonomia nacional. Mas o que realmente torna uma população vulnerável é o endividamento — ou a necessidade de parcelar no cartão de crédito a compra do mês no supermercado ou na farmácia.
O nacionalismo econômico é, na prática, um populismo disfarçado de patriotismo — e com preço de etiqueta elevado. Politicamente, ele pode ser popular por algum tempo. Mas é frágil, instável, e sua validade tende a expirar rápido. A história mostra, repetidamente, que o protecionismo penaliza primeiro os consumidores e, depois, os próprios políticos. Isso vale para a Europa, a América Latina ou os Estados Unidos.
Os EUA ainda podem evitar essa armadilha. Mas políticos, em geral, não gostam de dizer ao eleitorado que ele deveria valorizar mais o que já tem. Prometer mais — mesmo sabendo que custará caro — ainda é a estratégia mais eficaz para ganhar votos.
Zoltán Kész é ex-deputado húngaro e gerente de assuntos governamentais do Consumer Choice Center, organização internacional que promove liberdade de escolha e concorrência de mercado em políticas públicas.
©2025 FEE- Foundation for Economic Education. Publicado com permissão. Original em inglês: Economic Nationalism Means Empty Wallets