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Cuiaba - MT / 27 de julho de 2025 - 8:05

Por falar em guilhotina, você iria à execução pública do seu inimigo?

Enquanto o professor de comunicação (tinha que ser!) falava em usar a guilhotina contra a família-ostentação de Roberto Justus, eu assistia a “Napoleão”. Aquele do Ridley Scott com o Joachin Phoenix. Não fui até o final, mas pretendo ir. O detalhe é que o filme começa com a decapitação de Maria Antonieta. Pelo menos acho que era Maria Antonieta. Uma cena bem explícita. Explícita demais. O que me levou a pensar.

NÃO DEIXE DE RESPONDER À ENQUETE NO FINAL DO TEXTO

A pensar no povo. Na multidão, incluindo crianças, que assistiam ao espetáculo sanguinolento. No filme, Maria Antonieta aparece sendo colocada na guilhotina. Antes, ela atravessa um corredor humano e é alvo de todo tipo de xingamentos. Atiram tomates e ovos nela. Até que a lâmina desce pela armação de madeira. Shhhui. A princípio, o diretor nos poupa da imagem grotesca. Depois, porém, o carrasco exibe a cabeça, ainda pingando sangue, pra galera, que celebra como um gol.

Almanaque

E não pense que essa selvageria toda se restringiu ao furor revolucionário dos franceses recém-iluminados do fim do século XVIII. Pedindo desde já perdão pelo momento almanaque, a guilhotina continuou sendo usada na França ao longo de todo o século XIX e boa parte do século XX. Na verdade, a última execução pública por guilhotina na França ocorreu em 1939. Há menos de cem anos! E o “espetáculo” reuniu tanta gente e foi tão deplorável que depois disso a guilhotina passou a ser usada apenas nas prisões. A última execução foi no ano em que eu nasci: 1977.

Como é possível sentir esse êxtase (?) diante da visão de uma cabeça separada do corpo e ainda pingando sangue? Não sei. Não me entra na cabeça. Não entendo. Mas, se pouco entendo do povo ensandecido, entendo menos ainda a figura do carrasco. Será que, ao dormir, ele ficava ouvindo o som da lâmina caindo? Depois de um dia de trabalho intenso, será que ele se deixava levar pela sensação do dever cumprido? Será que a mulher dele reclamava das manchas de sangue na roupa?

E você?

Aí eu pergunto a você, que está aí furioso com o professor de comunicação que defendeu a guilhotina como solução para a ostentação dos milionários cafonas, mas também está furioso com a falta de segurança pública e a impunidade no Brasil. É, é, você! Você que está furioso com a política (nem me fale!) e o mundo jurídico (idem) e que, em segredo, fantasia revoluções sur la droite.

Será que você iria a uma execução pública? Levaria seus filhos para assistir à guilhotina decepando a cabeça de filhos alheios? Diria que esse tipo de exibição grotesca do que o ser humano tem de pior forma caráter ou coisa que o valha? Aplaudiria e gritaria uhu! diante da visão da cabeça decepada do seu inimigo? Ou será que não, que é tudo força de expressão, retórica e metáfora? Sei.

Enquete

  • Humor ideal do leitor: Autocrítico e disposto a um pouco de humor negro.
  • Situação ideal de leitura: Sozinho, diante do espelho.
  • Risco de ofensa pessoal: Indefinido.
  • Probabilidade de você mudar de opinião: Baixa.
  • Reação buscada pelo autor: Constranger, incomodar e induzir à autocrítica.
  • Palavras que talvez você não entenda: “Sur la droite”, “retórica”, “furor revolucionário”.

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Cuiaba - MT / 27 de julho de 2025 - 8:05

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