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Cuiaba - MT / 4 de julho de 2025 - 16:59

No exílio, Eduardo Bolsonaro tem o direito de ir à Disney?

Estava aqui tranquilo-tranquilo, comendo uma pipoquinha e pensando na morte da bezerra, tadinha, quando me soprou no ouvido o grilo encrenqueiro. “Vai lá, escreve sobre o Eduardo Bolsonaro na Disney”, disse ele, abrindo um sorrisão cafajeste. A princípio, agradeci, mas rejeitei a oferta. O leitor já está melindrado, hipersensível, ressabiado e furioso. Melhor não. Mas fui ver e, de fato, o deputado exilado e filho do ex-presidente Jair Bolsonaro curtiu uma passeiozinho no parque de diversões mais legal do mundo (dizem). Eis-me aqui escrevendo sobre o assunto, pois.

Ninguém é de ferro e sabemos que Eduardo Bolsonaro muito menos. Mas o friozinho na barriga na Seven Dwarfs Mine Train (foto) custou caro à imagem dele. De acordo com o Estadão, numa matéria algo jocosa, alguns parlamentares de direita não acharam de bom tom esse momento de descontração por parte de alguém que supostamente está lutando pela democracia, pela liberdade, pelo fim da ditadura de toga, pela elegibilidade do pai e pela defesa da Civilização Ocidental. Não necessariamente nessa ordem.

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Festa estranha, gente esquisita

De acordo com o Paulão aqui, quem torceu o nariz para Eduardo Bolsonaro na Disney foi uma parte considerável dessa festa estranha com gente esquisita a que damos o nome de “direita”. Nós (me incluo) que só queremos pagar menos impostos para sustentar menos corruptos e poder dar nossa opinião sobre qualquer coisa sem ficar com medo do Alexandre de Moraes. Nós que ainda temos uma vaga esperança (beeem vaga) de que a articulação do Zero Três nos EUA dê algum resultado.

A questão é: na condição de guerreiro exilado na terra da liberdade e do capitalismo, de filho de um ex-presidente inelegível, mas que é sem dúvida o maior líder da direita, da oposição, do antipetismo, o quase-ex-deputado Eduardo Bolsonaro pode deixar a luta renhida de lado por um tempinho e se divertir ao lado do Pateta? No momento em que nós, brasileiros, assistimos a uma escalada autoritária do STF que vai além da imaginação, ele pode se dar ao luxo de despencar da Twilight Zone Tower Of Terror (pescou? pescou?).

Não pode

Não pode. Digo, poder ele pode. Mas não lhe convém. Porque a partir do momento em que optou por deixar de ser um deputado perseguido, se exilou nos Estados Unidos e passou a bancar o herói e até uma possibilidade da direita para 2026, Eduardo Bolsonaro deixou de ser um homem normal, com liberdade para fazer o que lhe dê na telha. Pensando bem, ele deixou de ser até um político normal. Esse foi o acordo tácito que o Filho do Mito (Mitinho?) fez com o eleitorado. Se for bem-sucedido, ótimo. Vai colher os louros dessa escolha. Se fracassar… bom, aí quem sabe um dia ele consegue a normalidade de volta. Mas não agora. É o famoso pacto fáustico. Faz quem quer.

Isso é algo que (não me conformo!) os líderes da direita não entendem, talvez por uma deficiência na formação cultural: do mesmo modo que à mulher de César não basta ser honesta, ela tem que parecer honesta, ao filho do Bolsonaro não basta ser um político perseguido lutando pela liberdade enquanto sofre o exílio nos Estados Unidos. Ele tem que parecer o político perseguido lutando pela liberdade enquanto sofre o exílio nos Estados Unidos. Senão o símbolo do sacrifício pela Pátria se perverte. E símbolos importam mais que narrativas. Estas mudam mais ou menos ao sabor do vento e das circunstâncias, ao passo que aqueles permanecem. Se não te ensinaram isso, sugiro ler Jordan Peterson.

Normal

Por isso é que Eduardo Bolsonaro não pode, não tem o direito de brincar na Disney com a mãe, a mulher e os filhos, como um filho, marido e pai normal. O que ele está fazendo (tendo de fazer) lá nos EUA não é normal. Não numa democracia… normal. Afinal, o Brasil não vive a maior das normalidades. O STF não é normal. O Direito não é normal. A imprensa não somos normais. Ou você acha normal termos jornais apoiando a censura? Não, né? Normal – de sua parte.

Logo, não será normal o olhar que apoiadores e detratores dirigirão a um aparentemente normal fim de semana de Eduardo Bolsonaro e família nos parques da Disney. Os primeiros desconfiarão ou se perceberão obrigados a encontrar uma justificativa plausível para essa descontração tão inoportuna. Que saco. Os demais se regozijarão no cinismo – aliás, compreensível. Por consequência, a cobrança em relação a esse lazer tão relativamente prosaico tampouco será normal. Como se lê.

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Cuiaba - MT / 4 de julho de 2025 - 16:59

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