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Cuiaba - MT / 3 de julho de 2025 - 20:48

'Tu não quer visitar Marielle Franco onde ela está, não?'

São mais de 24 mil casos de racismo e de injúria racial registrados no Brasil, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024 e lamentavelmente, a violência e o preconceito estão cada vez mais presentes no cenário político, principalmente quando se trata de mulheres negras e de esquerda. No meu caso, essas formas de agressões se manifestaram de maneira direta e cruel, com ameaças de morte e ataques racistas e gordofóbicos que revelam um problema estrutural em nossa sociedade que precisa ser debatido.

Eu, uma mulher negra, favelada, gorda, vereadora eleita, fui alvo de ataques que combinaram uma série de estigmas profundamente enraizados na sociedade justamente na semana em que se completaram sete anos do assassinato brutal e ainda sem responsabilização da Vereadora Marielle Franco e de Anderson, seu assessor.

A minha eleição, é uma vitória da maioria minorizada, uma conquista histórica de uma mulher preta que conseguiu, com sua trajetória de estudo, trabalho e de luta, vencer barreiras impostas por um sistema excludente. Mas ser uma vereadora não te blinda de violências, pelo contrário, fui covardemente atacada nas redes sociais com comentários crueis sobre minha identidade. Além disso, fui alvo de uma ameaça ainda mais grave, que faz alusão ao assassinato de Marielle. “Tu não quer visitar Marielle Franco onde ela está, não?”, dizia um dos comentários denunciados ao Ministério Público.

Os ataques racistas dirigidos a mim fazem parte de uma longa história de marginalização das pessoas negras, especialmente as mulheres, que muitas vezes são desqualificadas com base em seus estereótipos raciais. A gordofobia também foi uma das armas utilizadas contra a minha pessoa. O preconceito contra corpos gordos é uma prática cotidiana que, ao contrário do que muitos possam pensar, não se limita a uma questão estética, mas envolve uma profunda desigualdade social. Ao ser atacada pelo meu corpo, tive minha autoridade questionada, como se a minha competência estivesse atrelada a um padrão físico imposto. Esse tipo de ataque revela como a gordofobia se entrelaça com o racismo, criando um círculo vicioso de opressões.

A minha eleição para a câmara municipal, precisa ser encarada como um marco de resistência. Deixo negritado que é fundamental fortalecer políticas públicas que garantam a representatividade e o respeito à diversidade, em todas as suas formas. A justiça Social passa pela inclusão, pelo reconhecimento e pela valorização das pessoas em sua totalidade, sem preconceitos. Assim, os ataques direcionados a mim não devem ser vistos como simples incidentes isolados, mas como um reflexo das dificuldades enfrentadas por muitas pessoas que são invisibilizadas e marginalizadas ainda nos dias atuais.

Eu, uma mulher negra, democraticamente eleita, passo, a partir dessas ameaças de morte, a ter escolta armada, como muitas outras mulheres negras de esquerda e como todas elas, sigo firme no meu compromisso com o fortalecimento da democracia, não tem arrego, nós não seremos mais interrompidas. E aos criminosos responsáveis pelas ameaças: a justiça cobrará.

O editor, Michael França, pede para que cada participante do espaço “Políticas e Justiça” da Folha de S. Paulo sugira uma música aos leitores. Nesse texto, a escolhida por Keit Lima foi “Olho de tigre”, de Djonga.


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Cuiaba - MT / 3 de julho de 2025 - 20:48

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