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Cuiaba - MT / 3 de julho de 2025 - 19:08

A melhor maneira de evitar que as crianças “desaprendam” durante as férias? Leitura

A chegada das férias escolares traz, além do merecido alívio para alunos e professores, um risco considerável: o de que parte do conhecimento adquirido durante o ano letivo se perca. Pesquisas confirmam tanto a magnitude dessa ameaça quanto a possibilidade de preveni-la com uma estratégia simples e eficaz — a leitura voluntária. Mas é preciso atenção: nem todo livro ou método funciona igualmente bem.

Há vasta literatura científica sobre os efeitos das férias de verão sobre o desempenho acadêmico dos estudantes — um fenômeno conhecido nos países de língua inglesa como Summer Learning Loss (SLL), ou “perda de aprendizagem no verão”. No entanto, esses estudos apresentam limitações importantes.

Em primeiro lugar, a maioria foi conduzida nos Estados Unidos, com escassez de dados em outros contextos culturais. Em segundo, concentram-se quase sempre em alunos do ensino fundamental — sobretudo até o equivalente à quarta série —, negligenciando uma etapa igualmente crucial para o desenvolvimento: a adolescência.

E, por fim — talvez o ponto mais relevante —, as pesquisas chegam a conclusões bastante divergentes (e, por vezes, até contraditórias) quanto à extensão do problema. Enquanto alguns estudos atribuem à SLL até dois terços da diferença de desempenho entre estudantes ao final da educação básica, outros minimizam seu impacto.

Uma “punição” desigual — e persistente

Apesar das divergências, há consensos relevantes. Um dos estudos mais abrangentes sobre o tema, “School’s Out: The Role of Summers in Understanding Achievement Disparities” (“A escola acabou: o papel das férias na compreensão das desigualdades educacionais”), publicado no American Educational Research Journal em 2020, ajuda a entender por que as conclusões variam tanto.

Os autores, Allison Atteberry e Andrew McEachin, sugerem que a perda de aprendizagem nas férias atinge os alunos de forma desigual. Isso significa que a escolha da amostra pode influenciar significativamente os resultados de uma pesquisa.

Com base em um banco de dados amplo e diverso de estudantes norte-americanos, os autores observaram que, enquanto alguns alunos progridem academicamente durante o recesso, outros chegam a perder quase tudo o que aprenderam no ano letivo.

Segundo eles, embora a diversidade nos ganhos escolares durante o ano aumente com a idade, a variação observada nas férias é ainda maior — e cresce mais rapidamente. Ou seja, as férias tendem a ser um fator mais determinante na ampliação das desigualdades educacionais do que o próprio ano letivo. Há evidências, inclusive, de que o tipo de experiência que o aluno vive nas férias pode influenciar suas chances de concluir o ensino médio e ingressar no ensino superior.

Outro consenso importante é que os efeitos da SLL são cumulativos: os mesmos alunos que perdem desempenho de um verão para o outro tendem a repetir o padrão ano após ano, acentuando sua defasagem em relação aos colegas. A lacuna, de acordo com algumas pesquisas, já aparece na primeira série, especialmente no campo da linguagem.

Livros enviados para casa

Diante da importância dessa “lacuna verbal”, muitos programas de reforço escolar durante o verão se concentram na leitura — ainda que a matemática, segundo especialistas, também seja fortemente afetada nas férias.

Embora aulas de verão sejam eficazes, diversos programas têm optado por incentivar a leitura no ambiente doméstico. A razão é dupla: preservar o caráter de recesso das férias, evitando a sobrecarga dos estudantes e professores, e apresentar a leitura como uma atividade prazerosa, cultivando o hábito de ler por vontade própria.

Um estudo realizado em Atlanta (EUA) ilustra bem essa abordagem. Cerca de 600 alunos do quarto ano de dez escolas participaram de um programa em que, a cada duas semanas, recebiam em casa um livro escolhido por eles a partir de uma lista adaptada ao seu nível de leitura — tudo gratuitamente. Junto com o livro, iam sugestões de perguntas para discussão e o incentivo à leitura do próximo exemplar.

Antes das férias, os estudantes haviam recebido orientações sobre diferentes formas de leitura: ora em voz alta, diante de um adulto, para que pudessem ser corrigidos se necessário; ora em silêncio, mas empregando técnicas de compreensão ensinadas em sala de aula, como fazer resumos mentais dos capítulos, prever os rumos da trama, ou relacionar personagens e situações com suas próprias experiências.

Os resultados foram promissores. Em média, houve melhora tanto na fluência quanto na compreensão leitora. O avanço foi ainda mais significativo entre estudantes de minorias raciais — que, segundo o estudo, possuíam menos livros em casa — e entre aqueles com desempenho inicial mais baixo.

Pouco tempo, atenção focada

O relatório também confirmou achados de estudos anteriores. Um deles é que livros adequadamente desafiadores — com vocabulário e estrutura sintática um pouco acima do nível habitual do aluno — promovem maiores ganhos. Outro ponto é que a leitura em voz alta, com acompanhamento de um adulto, melhora a fluência, o que libera a mente para focar na compreensão do texto.

Outro dado interessante: os maiores saltos de desempenho acontecem entre crianças que passam de zero leitura para apenas dez minutos diários. Mais tempo gera ganhos adicionais, mas em ritmo menor. Focar nos alunos que leem pouco, portanto, pode render avanços significativos sem sobrecarregá-los.

Outros estudos com programas semelhantes identificaram que o impacto é geralmente maior entre meninas do que entre meninos, e que a compreensão só melhora quando o aluno lê com atenção suficiente para responder a perguntas básicas sobre o conteúdo. Um estudo de 2016 concluiu que, quando bem planejadas, as intervenções mantêm seus efeitos positivos até nove meses depois do verão.

Esses programas também contribuem para ampliar o número de livros disponíveis nas residências — um indicador fortemente associado ao desempenho escolar. Ainda que o status socioeconômico não esteja diretamente relacionado à perda de aprendizagem durante o verão, o número de livros em casa, sim. E famílias de baixa renda, em geral, têm acervo reduzido.

Diversas pesquisas convergem na mesma direção: programas de leitura voluntária em casa, quando bem estruturados, podem ser tão ou mais eficazes do que cursos de férias formais. Se, além disso, motivarem os pais a ler junto com os filhos, melhor ainda.

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©2025 Aceprensa. Publicado com permissão. Original em espanhol: ¿La mejor receta para que los estudiantes no “desaprendan” en verano? Que lean

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Cuiaba - MT / 3 de julho de 2025 - 19:08

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